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Lingüística
A Educação do Surdo Ontem e Hoje
Juliana Pellegrinelli Barbosa Costa.
ISBN: 978-85-7591-135-8
Formato: 12 x 22 cm | Acabamento: Brochura
Páginas: 12 x 22 cm | Ano: 2010 | Edição: 1
Idioma: Português
Preço: R$ 0,00

Posição, Sujeito e Identidade Juliana Pellegrinelli Barbosa Costa

 

Sinopse:

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Muito se fala sobre a educação de surdos no contexto escolar brasileiro. Como se deu o processo histórico que o trouxe à educação? Quais elementos fazem parte da identidade do surdo? Que imagens podemos encontrar na materialidade de tais discursos, mais especificamente em algumas crônicas de Cecília Meireles sobre os alunos da primeira instituição brasileira (INES) a lidar com a educação de surdos, no Brasil? E na atualidade, de que forma a representação de sua identidade acontece? Como é a legislação no que diz respeito ao surdo? Este livro pretende refletir sobre tais assuntos, tendo a falta e o excesso como possíveis respostas para algumas dessas questões.
Nas linhas deste texto, o leitor será convidado a rever a história das posições - sujeito que constituíram o processo identitário do surdo. O convite que fazemos é para que o leitor nos acompanhe nas reflexões sobre tais posições e seus deslocamentos, quer sejamos nós surdos ou ouvintes, quer sejamos educadores, amigos, familiares, ou seja, o livro é direcionado a todos os interessados em questões relativas aos surdos.
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APRESENTAÇÃO

INTRODUÇÃO

Capítulo 1
PERCURSO TEÓRICO METODOLÓGICO
Linguagem e sujeito * O que é posição-sujeito? * Compreendendo como olhamos os textos, antes de qualquer análise * Traçando objetivos: as posições do sujeito surdo

Capítulo 2
OLHANDO ATRAVÉS DA HISTÓRIA
O surdo e as posições-sujeito * Surdos antes de Cristo * Surdos na Idade Média: as congregações religiosas * O surdo dos séculos XV e XVI * Gestualismo * O Congresso de Milão: embate entre gestualismo e oralismo * Posição sujeito: será uma questão de tempo? * O Instituto Nacional de Surdos (INES) e sua relação com a linguagem de sinais * O programa de ensino da primeira instituição brasileira de educação de surdos: oralismo para os aptos * O oralismo vai * O oralismo vem * Palavra articulada como caminho para o ensino resultados: o ensino e o oralismo * O oralismo vem * O oralismo vai * Substituição da mímica pela datilologia * LIBRAS e sua historicidade no INES * Palavras aos que se interessam pela educação

Capítulo 3
O DISCURSO LEGISLATIVO ACERCA DA LÍNGUA BRASILEIRA DE SINAIS
A Constituição de 1988: direitos dos portadores de deficiência * Lei 10.098 – de 19 de dezembro de 2000: Discurso fundador; a linguagem de sinais é legitimada * Lei 10.436 – de 24 de Abril de 2002: Finalmente, a língua dos surdos * Decreto lei de libras 5.626 – de 22 de dezembro de 2005 * LIBRAS e suas múltiplas relações de anormal a diferente

Capítulo 4
POSIÇÕES-SUJEITO SURDO: ANÁLISE DAS CRÔNICAS DE CECÍLIA MEIRELES E A QUESTÃO DA SURDEZ EM 1931
Sobre Cecília Meireles * A Cecília Meireles que nos interessa * Eureca, achei a crônica que faltava! os discursos que habitavam o sujeito Cecília Meireles de então * Questões que ocupavam a discursividade de Cecília Meireles sobre a educação dos surdos

Capítulo 5
UM OUTRO DISCURSO, UMA EXPRESSÃO DA ATUALIDADE. SERÁ O MESMO SUJEITO SURDO?
As Três Crônicas De Cecília Meireles: Para quê, Como e o quê se escreveu? * Como se deu a análise? * Posições-sujeito: pensando os números * A posição-sujeito surdo patológico * A posição-sujeito surdo anormal * Justficativa para tantos ditos sobre o surdo * A família e o surdo * A posição-sujeito surdo enquanto surdo-mudo, uma questão de linguagem politicamente correta? * A posição-sujeito surdo símbolo do desconhecido * A posição-sujeito surdo escolar * A posição-sujeito surdo social * A questão do trabalho do surdo

CONSIDERAÇÕES FINAIS
As posições do sujeito surdo através da história * LIBRAS em sua relação com o INES e com o discurso legislativo * Seis posições-sujeito * Um novo discurso possível * Proposta de reflexão aos educadores

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências eletrônicas

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APRESENTAÇÃO

Todos nós, educadores, concordamos que o trabalho cotidiano em sala de aula é de suma importância. Podemos discordar quanto aos melhores procedimentos a serem adotados, sobre a concepção de sujeito, de ensino, de aprendizagem, de linguagem, mas jamais consideramos o nosso trabalho supérfluo. Grandes discussões acompanham as sociedades ao longo da história no que diz respeito ao papel de educadores e da instituição escola para a preparação dos sujeitos de um determinado grupo.
Dentre as discussões que acompanham a sociedade brasileira, e, mais especificamente, todos aqueles envolvidos com a educação, localiza-se o trabalho com os surdos. Concordando com a proposta teórica de que sujeito e linguagem são indissociáveis, torna-se necessário acrescentar às discussões reflexões em torno do papel que LIBRAS (Língua Brasileira de Sinais) tem para a constituição do processo identitário de seus praticantes.
No século XXI, LIBRAS entrou oficialmente para a discussão a respeito dos direitos dos surdos e de sua educação no Brasil. O reconhecimento oficial significou muito para toda a sociedade brasileira, não apenas para os surdos. Significou muito, particularmente, para a instituição escola.
Demandas por profissionais praticantes de LIBRAS, demandas por especialistas no trabalho com surdos tornaram-se recorrentes, de tal maneira que novas propostas, novos conceitos, ganharam espaço nas discussões a respeito de como ensinar LIBRAS para surdos e ouvintes, como ensinar a Língua Portuguesa em sua modalidade escrita para surdos, entre outras questões.
O objetivo desse livro é apresentar algumas posições-sujeito ocupadas pelos surdos ao longo da história. Trabalhando dentro do quadro teórico da Análise de Discurso materialista, tal qual desenvolvida no Brasil, são analisados diversos discursos que constituíram o processo identitário do surdo.
Observaremos ao longo da leitura que historicamente o discurso a respeito do surdo sempre existiu nos enunciados dos ouvintes; sempre se falou sobre o surdo, e a ele foram atribuídos adjetivos que lhe conferiram uma posição-sujeito no discurso. Essa posição-sujeito nem sempre pode ser considerada positiva, e por isso abriu-se espaço para a materialização de conceitos e pré-conceitos que conferiram ao surdo uma posição-sujeito marginal no que diz respeito às complicadas relações de poder dentro dos grupos sociais.
Este livro possibilita a reflexão sobre a posição do surdo em nossa sociedade e sobre as diversas formas de se (re)conhecer a diferença, algumas impregnadas de equívocos os quais estão/são perpetuadas ainda hoje na forma como (re)significamos o surdo e a surdez e, em conseqüência, nos modos de atuação dos diversos profissionais, tanto na escola como na clínica. Pela leitura do livro é possível resgatar um momento da história da educação dos surdos, sempre pontilhada por conflitos e controvérsias, e observar o apagamento das línguas de sinais, tratada como algo inferior que deveria ficar fora da sala de aula. Refletir sobre o espaço ocupado pelo sujeito surdo em diferentes épocas é também um modo de perceber como a sociedade majoritária lida com as diferenças, suscitando um debate profícuo em torno da educação inclusiva e de novas possibilidades de educação para o aluno surdo.
O livro permite, ainda, por meio do resgate de documentos oficiais, e de forma bem pitoresca, conhecer o próprio funcionamento de uma instituição secular como INES, criado pelo próprio Imperador D. Pedro II, no final do século XIX. Pela leitura percebe-se a tensão entre o ensino da fala e a aceitação da língua de sinais que ainda hoje se verifica. Tal questão foi sempre objeto de polêmica ao longo da história, e as idas e vindas das práticas orais e a maneira como a língua de sinais era permitida ou não no espaço escolar, observada nos documentos oficiais daquela instituição, permite-nos ver os deslocamentos no discurso sobre o surdo e notar como a língua de sinais ocupava um lugar subalterno na escolarização do sujeito surdo, naqueles tempos, apesar de marcar sua presença substancial entre os surdos.
Ao se debruçar sobre a história da educação do surdo e sobre os documentos oficiais do INES, a autora consegue nos mostrar um panorama sobre a fundação do Instituto de Surdos e as tensões em relação à metodologia mais adequada para o ensino, o que se configura um lugar privilegiado para espreitarmos como o surdo era e é visto no mundo mais atual. Ao comentar esses fatos, a autora nos revela as idéias dominantes sobre o surdo nos últimos cem anos e como a naturalidade de visões patologizantes sobre a surdez influencia(vam) as escolhas metodológicas no ensino de/para surdos.
Os decretos que oficializam LIBRAS e conferem direitos aos surdos são, dessa maneira, importantes. Eles possibilitam deslocar o surdo de uma posição-sujeito marginalizada para uma posição-sujeito que lhe garanta um espaço na estrutura social no qual suas necessidades e demandas passem a ser consideradas como passíveis de serem atendidas.
A análise dos discursos que constituíram o processo identitário do surdo contribui para a compreensão das diversas possibilidades de reconhecê-lo e interpretá-lo. Como sabemos, não há apenas um sentido possível para os surdos, e tampouco um sentido fixo e imutável. O percurso analítico focalizando os diversos discursos históricos apresentados indica justamente as diversas possibilidades de sentido para os surdos, os deslocamentos nos sentidos relacionados às condições de produção do momento.
Voltando para a instituição escola. Consideramos que decretos-lei incidem sobre a sociedade, regulamentando as relações entre os sujeitos que a integram. Conforme mencionado anteriormente, a escola, como instituição social, foi diretamente afetada pelos decretos-lei que tratam de LIBRAS e dos direitos dos surdos. Foram colocados em circulação novas formulações, novos enunciados, que abriram espaço para que sentidos, até então não-formulados, ganhassem materialidade. Esse processo contribui para o redimencionamento das relações discursivas entre surdos e ouvintes, entre praticantes de LIBRAS e de Língua Portuguesa. Fornecer subsídios para o professor, para pais, para surdos e ouvintes a respeito do funcionamento discursivo que pautou as suas relações históricas implica reconhecer a constituição dos sujeitos pelo discurso, e implica, principalmente, possibilitar que todos se reconheçam como sujeitos do discurso e sujeitos ao discurso.
Tais reconhecimentos têm a função de colocar em cena discussões, argumentos, mobilizar discursos que aproximem grupos tão distintos em seus percursos históricos até muito recentemente. (Carmen Zink Bolognini e Ivani Rodrigues Silva)

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INTRODUÇÃO

A proposta de fazer a pesquisa descrita aqui veio com questionamentos sobre discursos sobre o surdo. Não há como negar as mudanças em torno das questões que tratam do surdo e da surdez. Nossas perguntas são: quais as posições-sujeito atribuídas ao surdo em discursos de ontem e de hoje? Quais sentidos sobre o surdo e sobre a surdez definiram essas posições-sujeito?
Para responder a essas questões, pretendemos perceber os deslocamentos ocorridos nas posições-sujeito surdo. Nossa pesquisa tem início no ano de 1931, sua posição-sujeito está ligada à anormalidade, como enfermo, como símbolo do desconhecido; ou seja, caracterizado pela falta. Em 2008, a posição-sujeito surdo é marcada pelo ser ícone, ativista, escolhido, constituído também por uma formação discursiva de completude, porém agora caracterizada pelo excesso, pelo transbordamento. Em ambos os momentos históricos, pode ser vista a individualização desse sujeito como origem de si e a não assunção de que ele é constituído pela linguagem, pelo outro, portanto cindido. Podem também ser vistos os critérios de comparação, que reafirmam a formação discursiva de completude e o desejo de poder que hierarquiza as relações.
Este escrito é uma análise discursiva que toma os ditos como discursos, que desloca sentidos em relação à concepção de sujeito surdo, de linguagem sobre o surdo e de história do surdo. Partimos do pressuposto teórico da Análise de Discurso Materialista, segundo a qual não mais o indivíduo, origem de si, mas sim o sujeito é o foco da análise; não mais a linguagem transparente, mas sim a linguagem como efeitos de sentido entre interlocutores; e não mais a história como fatos a serem contados, mas como efeitos de sentido em uma determinada direção, e não em outra. Ou seja, retira do texto seu caráter de interpretável em busca de uma verdade e o torna questionável, dialogável, inesgotável.
Com base na materialidade pensada discursivamente, esta análise proporciona condições de desenvolver práticas em relação ao surdo, em vários aspectos, como: na medicina, na sociedade, na educação, na legislação etc. As ações em relação ao surdo ou a qualquer outro sujeito, sendo pensadas com base numa reflexão não ingênua, poderão contribuir para o desenvolvimento das condições de vida desse sujeito.

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SOBRE A AUTORA

Juliana Pellegrinelli Barbosa Costa é mestre em Lingüística Aplicada pela Unicamp. Atua como professora na área de linguagem e como pesquisadora no grupo de pesquisa “História e Histórias em ambientes Institucionais”, que trata de questões que relacionam Discurso e Ensino. O foco principal de sua pesquisa concentra-se na educação de surdos e nos desafios lingüísticos e históricos que esta área apresenta.


Sobre os Autores:
Juliana Pellegrinelli Barbosa Costa -

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