É objetivo desse livro analisar como era entendida e qual a ênfase dada a educação no projeto político republicano. A opção pelo estudo de caso – a escolha do Colégio Culto à Ciência de Campinas – tem por finalidade permitir o melhor entendimento de como um grupo político, representante da nova classe social emergente assentada em relações capitalistas de produção, oriundo do Oeste Paulista e designado como grupo dos “republicanos históricos”, transplantou para a educação as suas aspirações políticas.
O “Culto à Ciência” foi criado em 1869, por uma sociedade do mesmo nome, composta de fazendeiros, comerciantes, militares e “intelectuais” da época que se afirmavam positivistas, maçons e republicanos. Muitos dos homens implicados na fundação e na manutenção desse estabelecimento de ensino tornaram-se figuras decisivas nos primeiros governos republicanos, como Campos Salles, Francisco Glycério, Américo Brasiliense, Prudente de Moraes, Bernardino de Campos e outros.
A cronologia histórica estabelecida refere-se ao tempo de existência do “Culto à Ciência” como instituição particular: inicia-se com o aparecimento da idéia de sua criação no ano de 1869 e prolonga-se até seu desaparecimento como instituição particular em 1892, quando passa a existir como escola oficial.
O livro O ideário republicano e a educação, de Carmen Sylvia Vidigal Moraes, resulta de pesquisa pioneira no âmbito do estudo das instituições escolares. Ao lê-lo, o trabalho cuidadoso de utilização das fontes vem à tona – aliás, a própria seleção de fontes realizada pela autora fica evidente. O texto tem o mérito de nos colocar frente a frente com uma produção, na área da educação, que há duas décadas já trazia a preocupação com o rigor no tratamento das fontes documentais e com os documentos produzidos pela instituição, com o labor necessário aos estudos no âmbito da história das instituições. Carmen Sylvia, além da pesquisa em arquivos públicos e bibliotecas, trabalhou nas dependências da escola, com os documentos manuscritos preservados pelas secretarias das instituições escolares, no denominado arquivo morto, onde, dispondo-se ao laborioso trabalho de leitura dessas fontes, encontrou informações preciosas, ontem e hoje, ao avanço da história e da historiografia da educação brasileira. Não havia, na época, a possibilidade de digitalizá-las, mas houve a da microfilmagem, da qual a pesquisadora não se esquivou. Importante naquele momento, esse procedimento ganha, hoje, grande relevância, quando o acervo histórico do Colégio Culto à Ciência encontra-se em processo de organização, com o investimento em sua preservação, em projeto sob a minha coordenação e que tem Carmen Sylvia como parceira. A seriedade dessa pesquisadora e, sobretudo, a sua preocupação com a preservação das fontes documentais trouxe-ram a possibilidade de que vários documentos antigos relativos à criação, à organização e às práticas pedagógicas da instituição permane-cessem entre nós e pudessem voltar ao acervo da escola, visto que os microfilmes foram cuidadosamente guardados e conservados todos estes anos posteriores à realização do trabalho. Este livro nos chega em momento privilegiado, quando o estudo das instituições, bem como a preocupação com a salvaguarda da memória educacional, aparece entre as prioridades dos pesquisadores da educação.
Sobre a autora
É professora associada da Faculdade de Educação da USP. Integra a equipe de pesquisadores do Centro de Memória da Faculdade de Educação, da qual foi uma das fundadoras e coordenadora.
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