Em coletânea que conseguiu reunir historiadores da educação do Brasil, Portugal, Espanha e França, possíveis caminhos são indiciados e ampliados nesse ato de rememorar para o qual há que se buscar lugares de memória para a educação, para essa (re) construção: são os arquivos e os museus escolares, mas também os novos olhares sobre eles, são os impressos com as diferentes abordagens para analisá-los, são as bibliotecas escolares e o rastrear de uma história, são os estudos biográficos, na busca de um sentido que se explicita. Nessa revelação de sentidos, há que buscar aquele que alimenta a indagação: como se esquecer do esquecimento, ou como não se lembrar? Memória e esquecimento olhados reciprocamente, um não existe sem o outro. Nesse movimento, uma busca, uma história, histórias que se constroem, no diálogo com as fontes, com os suportes materiais, com os lugares, com a história dos lugares, com os lugares da educação, na construção de uma história da educação.
MERGULHAR NO PASSADO E PRODUZIR MEMÓRIAS
Do conjunto de reflexões que compõem esta obra saltam diferentes lugares, objetos, tempos e figuras. O desafio de pensar sobre eles e a partir deles mobilizou pessoas também diferentes, daqui e do além-mar. Um desejo, entretanto, lhes é comum: o mergulho no passado.
Organizados em três partes – Lugares da memória/lugares da educação; Mesmos objetos, outras leituras: a história da educação; De memória e esquecimento – sucedem-se dezessete textos e dezenove autores discutindo temas como: museus e bibliotecas escolares, manuais de ensino, o estudo dos periódicos e da profissão docente, dentre outros. Abordam-se ainda questões conceituais e metodológicas, próprias do campo da historiografia e da história da educação.
O esforço é claro: animar e potencializar as discussões de um campo que se vê cada vez mais alargado em seus contornos, multiplicado em seus assuntos e transformado em seus modos de fazer.
Dois trabalhos “encantados” dão mais vida ainda ao volume. O de seu idealizador/organizador e o do leitor. Aquele empreende os gestos de buscar, reunir, distinguir e organizar, imaginando aproximações, secções e denominações para composição do livro como conjunto. Este, diante do volume, em sua operação de ler, pode inverter as ordens e seqüências, lançando-se daqui para ali, cruzando a vasta paisagem e recompondo o material a sua própria maneira. Então, outros encontros, idéias e sentidos são possíveis.
Como se vê, um livro assim abre-se a muitos interesses e vontades, podendo acolher a todos generosamente. Pode-se pensar em muitos livros dentro de um só livro.
Educação, memória, história: possibilidades, leituras, também é uma obra que, lançando-se no passado, nos ajuda a compreender o presente. Não como lugar estável, resultante de um passado igualmente estável e único, que se descobre e se recupera. Mas como ponto passageiro e móvel, marcado pelos vários passados, reconstruídos pelo trabalho da pesquisa, da imaginação e da memória.
Maria Cristina Menezes (org.) é professora na Faculdade de Educação da Unicamp.
PARTICIPAM DA COLETÂNEA: Maria Cristina Menezes (org.), Jean Hébrard, Margarida L. Felgueiras, Maria Leonor B. Soares, Rogério Fernandes, Maria Lúcia S. Hilsdorf, Diana G. Vidal, Ana Maria C. Peixoto, Maria Carolina B. Galzerani, Antonio Viñao, Marta Maria C. de Carvalho, Marize C. Vilela, Cláudia P.B. da Silva, Ana Regina Pinheiro, Luiz Carlos Barreira, Maria João Mogarro, Carlota Boto, Luciano M. de Faria Filho, Agueda B. Bittencourt, Elizabeth dos Santos Braga.
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