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Tradicionalmente, acredita-se que, em geral, a literatura vive numa espécie de bolha diáfana e perfeita, protegida das impurezas excrescências do mundo concreto, respirando apenas os ares da criação e da inspiração, girando em torno de si mesma. Que a "aura" literária sempre se preserva, a mesma, intocada, a despeito das mudanças de tempos e vontades. É justamente contra essa visão que A imagem e a letra: Aspectos da ficção brasileira contemporânea se insurge.
Sabendo que a literatura viceja no solo fértil da realidade concreta, crescendo sem redomas protetoras, à mercê de muitos elementos que passam bem longe das letras, como apenas uma linguagem em meio a tantas outras que se confrontam, complementam, entrecruzam e interagem, o livro se detém na análise e interpretação das influências que os mecanismos do mercado, em simbiose com a imagem eletrônica, sobretudo a da televisão, vêm exercendo sobre a forma e o sentido dos textos de ficção, com a consolidação de uma indústria cultural no país, a partir dos anos 60. Para a autora, esse é um dos aspectos mais decisivos na constituição das coordenadas que direcionam a produção dos textos ficcionais de hoje. Trabalhando com autores como Rubem Fonseca, Raduan Nassar, Caio Fernando Abreu, Sérgio Sant'Anna e Jorge Amado, ela tenta captar, na filigrana do texto, o rastro desses aspectos, expressos em soluções formais específicas e temas recorrentes.
Em suma, do exame das complexas relações entre a ficção, a mídia e o mercado, depreende-se o circuito completo da produção, circulação e consumo da cultura hoje, no interior do qual a idéia de uma literariedade preservada e de uma antiga "aura" intocável aos poucos se desvanece …
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