Este trabalho dedica-se ao estudo do jornalismo inicial de Machado de Assis. Escrever a crônica da semana foi uma tarefa que desafiou muito cedo o nosso escritor, o qual se ocupou, desde o início da década de 1860, mas também bastante regularmente nos trinta anos que se seguiram, da tarefa de transformar o dia-a-dia em notícia. A crônica da semana, o folhetim-variedades, narrava os recentes fatos passados, tentando apanhá-los todos através de um só texto, do qual se esperava ainda, apesar da matéria repetida, que oferecesse leitura de interesse.
Era necessário que se revestisse o acontecimento que já fora notícia, e que era novamente recapitulado pelo texto da crônica, de um colorido particular. Nesse sentido, Machado de Assis utilizou-se de recursos literários, a fim de "dar ao folhetim um tom de gracejo", o tom "brincão e galhofeiro" que ele requeria, investindo na composição coesiva do texto e no desenvolvimento de um narrador que valorizou essa tessitura, a fim de compor um texto de interesse, recheando o desenvolvimento da literariedade de sua crônica com seus comentários irônicos e as suas observações agudas sobre os fatos miúdos do cotidiano.
Como resultado, a análise das crônicas resgata o investimento machadiano na criação literária desses seus textos, repletos de interesses históricos e literários por si, mas que surpreendem também por antecipar o grande prosador que Machado ainda seria em seus inúmeros contos e melhores romances.
SUMÁRIO
Prefácio
Apresentação
1. Introdução geral à crônica de Machado de Assis
O diário do Rio de Janeiro - primeira fase
Introdução e perfil do periódico
Crônica e política
Política e tradição literária
Sem medo da controvérsia
2. O diário do Rio de Janeiro - segunda fase
O presente como comédia
Política e cena dramática
Política, opinião e literatura
O narrador que se eleva
3. Palavras finais
Referências bibliográficas e bibliografia consultada
Sobre a autora
Lúcia Granja é doutora em Letras na área de Teoria Literária, pelo Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp. Professora de Literatura Brasileira e Teoria da Literatura nos cursos de Letras da Universidade Paulista e Faculdades Padre Anchieta.
Em seus estudos sobre Literatura, tem privilegiado o escritor Machado de Assis, atendo-se a um dos aspectos menos estudados de sua obra, que corresponde aos primeiros anos de produção literária e intelectual do então jovem escritor. Dedicou-se em seu mestrado e doutorado ao jornalismo inicial de Machado, às crônicas hebdomadárias publicadas pela imprensa, as quais comentavam os fatos da semana ou da quinzena, e que apresentam um interesse literário particular. Atualmente, concentra seus estudos em Machado de Assis, censor do Conservatório Dramático Brasileiro, função que o escritor desempenhou nessa mesma fase de sua carreira
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