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Esta é uma obra comemorativa dos dez anos de existência do Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores de Matemática (GEPFPM) da FE/Unicamp e destina-se aos docentes e pesquisadores que trabalham com formação inicial e continuada de professores, sobretudo aqueles que se dedicam às Licenciaturas e aos programas de formação continuada e de pós-graduação em Educação Matemática.
O livro traz estudos e discussões sobre a constituição e o desenvolvimento profissional do professor que ensina matemática em três diferentes contextos de prática formativa: Em práticas diferenciadas de formação inicial e de trabalho docente durante os primeiros anos de docência; Em grupos colaborativos envolvendo professores da educação infantil e do ensino fundamental; Em diferentes comunidades de prática constituídas por professores, futuros docentes e formadores de professores de matemática ou estatística.
Textos que compõem a obra e seus autores:
PREFÁCIO
TRAJETÓRIAS, UTOPIAS, DESEJOS, RETRATOS E ESTUDOS DO GRUPO
Rosana Giaretta Sguerra Miskulin
Maria Tereza Menezes Freitas
Maria Auxiliadora Bueno Andrade Megid
Admur Severino Pamplona
Marisol Vieira Melo
Cármen Lúcia Brancaglion Passos
PARTE I -- UM OLHAR RETROSPECTIVO PARA OS ESTUDOS DO GEPFPM
PESQUISAS ACADÊMICAS CONSTITUÍDAS NAS INTERLOCUÇÕES DE UM GRUPO DE ESTUDOS SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES QUE ENSINAM MATEMÁTICA
Marisol Vieira Melo
PARTE II -- CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL; PRÁTICAS/GRUPOS COLABORATIVOS E COMUNIDADES DE PRÁTICA
PRIMEIRO EIXO TEMÁTICO
CONSTITUIÇÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
(RE)CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DA DIVISÃO NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DAS SÉRIES INICIAIS
Maria Auxiliadora Bueno Andrade Megid
INVESTIGAR E ESCREVER NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA
Maria Teresa Menezes Freitas
Dario Fiorentini
PROFESSORES INICIANTES E O DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL: UM OLHAR SOBRE PESQUISAS ACADÊMICAS BRASILEIRAS
Renata Prenstteter Gama
PERCEPÇÕES E REFLEXÕES DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM INÍCIO DE CARREIRA SOBRE SEU DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL
Luciana Parente Rocha
Dario Fiorentini
SEGUNDO EIXO TEMÁTICO
PRÁTICAS/GRUPOS COLABORATIVOS
PRÁTICAS POTENCIALIZADORAS DO DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL DOCENTE: ATIVIDADE DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO
Cármen Lúcia Brancaglion Passos
Rosa Maria Moraes Anunciato de Oliveira
Renata Prenstteter Gama
CONSTITUIÇÃO DO PROTAGONISMO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA EM UM PROJETO DE FORMAÇÃO EM SERVIÇO DE AUXILIARES DE DESENVOLVIMENTO INFANTIL
Dione Lucchesi de Carvalho
PROCESSOS FORMATIVOS: COMPARTILHANDO APRENDIZAGENS EM GEOMETRIA COM DIFERENTES MÍDIAS
Adair Mendes Nacarato
Regina Célia Grando
Thiago Augusto Eloy
TERCEIRO EIXO TEMÁTICO
COMUNIDADES DE PRÁTICA
COMUNIDADES DE PRÁTICA E CONFLITOS DE IDENTIDADE NA FORMAÇÃO DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA QUE ENSINA ESTATÍSTICA
Admur Severino Pamplona
Dione Lucchesi de Carvalho
QUANDO ACADÊMICOS DA UNIVERSIDADE E PROFESSORES DA ESCOLA BÁSICA CONSTITUEM UMA COMUNIDADE DE PRÁTICA REFLEXIVA E INVESTIGATIVA
Dario Fiorentini
COMUNIDADE DE PRÁTICA VIRTUAL: POSSÍVEIS CONTRIBUIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA
Rosana Giaretta Sguerra Miskulin
Maurício Rosa
Mariana da Rocha C. Silva
PARTE III -- UM OLHAR PROSPECTIVO PARA OS ESTUDOS DO GEPFPM
INTER-RELAÇÕES ENTRE DESENVOLVIMENTO DOCENTE E MUDANÇA CURRICULAR: UM PROGRAMA DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA
Regina Célia Grando
Dione Lucchesi de Carvalho
Dario Fiorentini
Rosana Giaretta Sguerra Miskulin
Adair Mendes Nacarato
Cármen Lúcia Brancaglion Passos
POSFÁCIO
DESCORTINANDO OUTRAS PAISAGENS A PARTIR DOS RETRATOS PRODUZIDOS
Dario Fiorentini
Adair Mendes Nacarato
Dione Lucchesi de Carvalho
Regina Célia Grando
Renata Prenstteter Gama
SOBRE OS AUTORES
Prefácio
TRAJETÓRIAS, UTOPIAS, DESEJOS, RETRATOS E ESTUDOS DO GRUPO
Narrar a história da produção e da elaboração de um livro que retrata as múltiplas dimensões da formação de professores que ensinam matemática não se apresenta como um projeto simples. Seria um projeto possível? Talvez uma utopia? Apenas um desejo? Ou a possibilidade de um retrato? Para nós, um projeto possível que envolve uma utopia a qual poderia ser representada por um retrato, pintado a várias mãos, culminando na materialização de um desejo. Um retrato que, para esboçá-lo, precisamos retornar, algumas vezes, ao passado; aos momentos já vividos de nossa trajetória, resgatando indícios de recordações, fatos, sentimentos e realizações que ajudam a elucidar e compreender o presente. Um presente transitório, inacabado e, ao mesmo tempo, projetivo.
Um retrato que traz em suas entrelinhas, um pouco de cada um de nós, um pouco de nossas certezas e incertezas, de nossos conhecimentos, de nossas práticas, que carregam em si mesmos a nossa subjetividade. Mas, quem somos nós, constituintes do GEPFPM – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores de Matemática? Somos aprendizes e professores-educadores matemáticos que pesquisam sobre o desenvolvimento profissional de professores e futuros professores de Matemática em diferentes instituições de ensino superior. Aprendizes, quando nos dispomos a participar de um grupo que traz propostas de estudo e pesquisa em um processo colaborativo em sua dinâmica, em que as discussões e as contribuições acontecem em espaços virtuais e presenciais, com professores de diversas instituições dentro e fora do país.
O foco comum a todos os participantes está na formação de professores que ensinam Matemática. Assim, poderíamos caracterizar o GEPFPM como um fórum de discussão e estudo sobre a pesquisa em Educação Matemática. Um fórum em que o compartilhamento de experiências e conhecimentos se revigora em momentos de produção colaborativa de conhecimento, conseguindo, ao mesmo tempo, contar com intervalos descontraídos, ambos carregados de sensibilidade.
Com o espírito de conhecer diferentes teorias e avançar nos estudos relacionados ao interesse de seus membros, o grupo tem produzido vários trabalhos que foram divulgados em periódicos da área, em eventos nacionais e internacionais e, ainda, em livros.
Em 2003 foi lançado o primeiro livro do GEPFPM – Formação de professores de matemática: explorando novos caminhos com outros olhares, o qual revelou aspectos da formação inicial do professor de matemática, ancorando-se no conhecimento profissional, com enfoque na pesquisa, na teoria e na prática; e também nas práticas colaborativas e nas novas tecnologias, no processo de formação profissional.
Em 2005, o livro Cultura, formação e desenvolvimento profissional de professores que ensinam matemática destacou alguns desafios do ser e do desenvolver-se professor, apresentando a possibilidade do trabalho colaborativo como uma dimensão fundamental na formação e na pesquisa docente.
Em ambos os livros houve um diálogo com pesquisadores não pertencentes ao grupo, mas com temáticas de investigação que se aproximam das discussões que temos desenvolvido.
Considerando o intuito de retraçar alguns avanços, (des)construções e (re)construções teórico-metodológicas sobre as dimensões implícitas no complexo e multifacetado contexto da formação de professores que ensinam matemática, o grupo debruçou-se na elaboração e produção de mais um livro.
Precisar o início desta produção que ora apresentamos neste livro/retrato/desejo parece impossível, pois os estudos e os diálogos com os diferentes autores e teóricos que nos ajudaram/ajudam a compor os vários capítulos estiveram conosco em diferentes momentos de nossa trajetória. Como tem sido essa trajetória?
Trajetória de elaboração
Trajetórias permeadas de utopias, desejos e retratos, materializados em um livro, são representações traçadas a partir de uma pintura, esboçada por várias mãos.
Este livro seria composto por artigos de autoria dos participantes do grupo, de modo que elucidassem as tendências atuais de ensino e pesquisa desenvolvidas pelo GEPFPM – enfim, a nossa trajetória, como educadores matemáticos. Para tanto, realizamos várias discussões sobre as possíveis dinâmicas de trabalho. Precisávamos decidir, por exemplo, aqueles que, no interior do grupo, empunhariam os pincéis, sendo, portanto, os responsáveis pelos textos capazes de expor o nosso fazer e o nosso pensar. Essa escolha exigiu que cada um compusesse um pequeno esboço, uma sinopse, focando os interesses e as características de sua pesquisa.
A partir dessas sinopses, ocorreram vários encontros, comparáveis, talvez, à escolha do ambiente, da intensidade de luz, da pose, com os quais o grupo seria retratado. Nos encontros líamos as sinopses, nas quais cada pesquisador/pintor mostrava seu estilo de texto/pintura. Enviados anteriormente para todo o grupo, esses pequenos textos eram discutidos virtual e presencialmente, considerando seus aspectos epistemológicos e metodológicos, o que permitiu apontar, a cada autor/pintor novos encaminhamentos e recomendações para as possíveis elaborações dos capítulos. Em um outro momento, retornos e retoques aconteciam, quando os autores enviavam para todos os participantes os textos (re)elaborados, segundo as sugestões discutidas anteriormente.
Entretanto, mesmo sendo uma pintura capaz de comportar diferentes estilos, fez-se necessário pensar em delinear uma harmonia. No nosso caso, essa harmonia foi pensada a partir da perspectiva teórico-metodológica adotada em cada capítulo do nosso livro/retrato. Na tentativa de contemplá-la, os autores enviavam para todo o grupo um texto disponível na literatura que oferecia suporte aos capítulos que estavam sendo elaborados. Novamente, esses capítulos foram reenviados e, mais uma vez, constituíram-se em objeto de discussão e interlocução dos autores com os outros participantes do grupo e, ainda, de interlocução com os textos suportes – permitindo-nos compreender os tons e a luminosidade propostos pelos autores.
Esta dinâmica de constituição do livro contempla um dos conceitos estudados e trabalhados pelo grupo. Trata-se do conceito de excedente de visão (Bakhtin 2000), que explicita como as múltiplas perspectivas, oriundas dos participantes, potencializam as nossas relações sobre a compreensão de um determinado conceito ou fenômeno. Ou, de outro modo, como um mesmo retrato/livro/desejo pode comportar diferentes estilos de pintura, diferentes enfoques. Assim, ressaltamos que o que mantém os trabalhos do grupo, embora sendo seus membros oriundos de comunidades acadêmicas distintas e possuidores de interesses e saberes diversos, são as nossas semelhanças e diferenças, estas últimas concebidas não como carências ou deficiências, mas como “excedente de visão” de uma parte do grupo em relação à outra.
Portanto, consideramos que, se materializássemos um desejo em um retrato, em um livro que contivesse as nossas perspectivas teórico-metodológicas, as nossas utopias e as nossas trajetórias de pesquisa, estaríamos compartilhando e, ao mesmo tempo, expondo aos leitores esse complexo e multifacetado campo de pesquisa – a formação de professores que ensinam matemática. Afinal, um mesmo fazer ou um mesmo retrato podem ser observados por vários ângulos e analisados segundo diferentes sistemas simbólicos. Mais que isso, um livro pode ainda comportar diferentes temas.
Nosso livro está dividido em três partes: a inicial, que retrata um olhar retrospectivo de estudos e trabalhos do grupo (um capítulo); a segunda parte socializa o movimento da recente produção de pesquisas do grupo e privilegia uma multiplicidade de cores que iluminam três eixos temáticos: Constituição e desenvolvimento profissional (quatro capítulos); Práticas e grupos colaborativos (três capítulos) e Comunidades de prática (três capítulos). Uma terceira parte traz um olhar prospectivo dos estudos e dos trabalhos do grupo (um capítulo). Como fechamento, no posfácio, o grupo revê os retratos produzidos e descortina outras paisagens.
Um olhar retrospectivo para os estudos do GEPFPM
A primeira parte do livro é composta pelo capítulo Pesquisas acadêmicas constituídas nas interlocuções de um grupo de estudos sobre formação de professores que ensinam matemática, que apresenta um olhar retrospectivo para os estudos do grupo, a partir das produções coletivas e individuais. Foram selecionados cinco trabalhos produzidos por participantes do GEPFPM que desenvolviam seus estudos de mestrado ou doutorado na FE/Unicamp, entre 2005 e 2007. Essas pesquisas foram constituídas nas interlocuções teórico-metodológicas do grupo e que dão indícios da influência do GEPFPM na elaboração de suas pesquisas. Nesse sentido, observou-se algumas aproximações teóricas, temáticas e metodológicas dos estudos então em desenvolvimento, as quais influenciariam significativamente na prática investigativa do(s) pesquisador(es).
Essas aproximações, decorrentes do aprofundamento teórico realizado no grupo, remetem aos estudos dos saberes docentes; dos grupos colaborativos; do desenvolvimento profissional e também, da escrita discursiva e reflexiva na formação docente. Contudo, a interlocução desenvolvida no grupo entre seus participantes e pós-graduandos favoreceu de modo significativo, a constituição das pesquisas, evidenciando o processo metodológico adotado em cada produção, seja ela coletiva ou individual.
Constituição e desenvolvimento profissional
Este eixo temático é composto por quatro capítulos que mesclam as cores de cada texto apresentado. As cores que trazem a essência das pinturas se complementam no conjunto, no coletivo do livro/retrato/desejo. Os dois primeiros capítulos enfocam a formação inicial dos professores que vão ensinar matemática.
O capítulo (Re)construção do conceito da divisão na formação de professores das séries iniciais<> parte do resgate da trajetória de aprendizagem de alunas de um curso de Pedagogia por meio da escrita de memórias, aliada ao processo de (re)construção do conceito de divisão em atividades exploratório-investigativas. Durante a elaboração das atividades, as alunas registravam seus procedimentos e socializavam suas estratégias a partir de narrativas orais e/ou escritas. A autora partiu do pressuposto de que essa estratégia permite potencializar o processo de formação de futuras educadoras das séries iniciais que irão ensinar matemática, auxiliando na organização de saberes docentes.
O capítulo Investigar e escrever na formação inicial do professor de matemática apresenta um estudo sobre o papel e as contribuições da investigação e da escrita discursiva na formação inicial do professor. Toma por base duas disciplinas da licenciatura em Matemática – uma voltada à formação matemática do futuro professor (Geometria) e a outra voltada à formação didático-pedagógica do professor (Prática de Ensino de Matemática e Estágio Supervisionado). O texto evidencia aspectos teóricos da perspectiva de trabalho que desenvolve atividades de escrita discursiva e reflexiva sobre o ensino da matemática e o desenvolvimento de projetos na formação docente. Os autores, ao mesmo tempo em que apresentam a pesquisa narrativa como metodologia para investigar o processo de desenvolvimento do professor, realizam uma análise narrativa desse processo.
Os dois últimos capítulos desse eixo temático tratam do início de carreira docente. O capítulo Professores iniciantes e o desenvolvimento profissional: um olhar sobre pesquisas acadêmicas brasileiras descreve o estado da arte da pesquisa sobre o início da carreira docente. A autora analisou 28 dissertações e teses brasileiras de diferentes áreas, identificando problemas e dificuldades dessa fase; estratégias e processos que possam favorecer o desenvolvimento profissional e o que recomendam esses estudos.
Encerra esse eixo temático o capítulo Percepções e reflexões de professores de matemática em início de carreira sobre seu desenvolvimento profissional. Os autores consideram que os primeiros anos de docência são caracterizados por múltiplas e complexas interações e se configuram como um contexto de prática marcado por tensões, medos, ansiedades, alegrias, aprendizagens sobre si mesmo e sobre o que é ser professor nos diferentes contextos de prática. Tomando como sujeitos de pesquisa dois egressos da licenciatura em matemática da Unicamp, os autores produziram uma análise interpretativa sobre as percepções e as reflexões dos professores iniciantes sobre seu processo de formação acadêmica e de desenvolvimento profissional. A análise envolveu contribuições e limitações da licenciatura para seu desenvolvimento profissional e dilemas, desafios e constrangimentos da prática docente durante os primeiros anos de magistério.
Práticas/grupos colaborativos
Esse segundo eixo temático é decorrente do próprio processo vivenciado pelos autores, participantes do GEPFPM. As pesquisas coletivas desenvolvidas pelo grupo e as discussões realizadas nos espaços formativos dos encontros ocorridos ao longo do tempo propiciaram a aquisição de aportes teóricos de estudos nacionais e internacionais que abordam e problematizam a formação de professores. A dinâmica de estudo e as discussões do grupo foram essenciais para a compreensão e o delineamento da concepção sobre práticas colaborativas, em um movimento entre o singular e o coletivo. Os membros do grupo têm-se apropriado de saberes e práticas de formação e os têm levado para suas respectivas instituições, na constituição de novos grupos.
Dentre as leituras teóricas desenvolvidas pelo grupo, algumas foram fundamentais para que construíssemos uma concepção de colaboração. Nesse movimento estudamos pesquisas e trabalhos – publicados nacional e internacionalmente –, desenvolvidos sobre e com professores, que evidenciam o trabalho coletivo e, em especial, o trabalho colaborativo.
Em um trabalho produzido no grupo (Miskulin et al. 2005) debruçamo-nos sobre estudos e pesquisas em torno do conceito de colaboração. Entendemos que esta não pode ser imposta, mas sim, construída. Em práticas colaborativas os objetivos são traçados na interação coletiva do grupo, pelos diferentes olhares e perspectivas dos participantes sobre o objeto estudado. A aprendizagem é socialmente construída pelos participantes do grupo, que se desenvolvem profissionalmente quando aprendem coletivamente, em comunidades colaborativas ou redes, construindo conhecimento local e significativo, o qual coloca em prática um conhecimento compartilhado advindo da prática docente (Cochran-Smith e Lytle 1999).
Essas são algumas das perspectivas teórico-metodológicas que fundamentam os três capítulos deste segundo eixo temático do nosso livro/retrato/desejo.
No primeiro capítulo deste eixo, Práticas potencializadoras do desenvolvimento profissional docente: atividade de ensino, pesquisa e extensão, as autoras estabelecem um diálogo com a literatura sobre a formação de professores, sobretudo a respeito de desenvolvimento profissional e de práticas colaborativas mediadas pela escrita do professor. Elas criaram, no espaço acadêmico, um ambiente de trabalho que favorece práticas coletivas compartilhadas e reflexivas, ao proporem escritas de livros de histórias infantis para ensinar matemática nas séries iniciais. Selecionaram, para a composição do cenário deste livro, grupos constituídos nos anos de 2004 a 2006. Trouxeram aqui os relatos orais e os registros escritos produzidos pelos participantes, enquanto pincelavam – através das histórias infantis – seus saberes sobre a matemática, avaliando a própria aprendizagem e as possíveis contribuições para a prática.
O capítulo Constituição do protagonismo de professores de Matemática em um projeto de formação em serviço de auxiliares de desenvolvimento infantil focou a compreensão da constituição profissional de auxiliares de desenvolvimento infantil (ADIs) – funcionários de creches municipais – imbricada na participação em um programa de transformação curricular caracterizado pela interdisciplinaridade. A autora analisou as produções coletivas dos envolvidos no grupo – registros escritos e depoimentos orais – acerca de matemática (e de estatística), bem como o protagonismo do professor de matemática na transformação curricular relativa à área, em uma perspectiva histórico-cultural vygotskyana.
O último capítulo deste eixo, Processos formativos: compartilhando aprendizagens em geometria com diferentes mídias traz a análise do movimento de um grupo de dimensões colaborativas – constituído por professores e alunos da graduação e da pós-graduação no interior de uma universidade privada – que toma a geometria como objeto de estudo. Consideram-se as estratégias formativas como elementos potencializadores de aprendizagem docente. Para subsidiar a discussão, os autores apresentam o caso de um subgrupo e analisam o movimento de seus três componentes – a preparação de uma atividade para sala de aula no interior do grupo, a realização da aula e a posterior socialização e análise no grupo –, evidenciando as aprendizagens compartilhadas como decorrentes dos processos formativos adotados no grupo.
Comunidades de prática
No terceiro eixo temático apresentamos três estudos que narram, descrevem e analisam a formação e o desenvolvimento profissional de professores de matemática em comunidades de prática.
Os professores, profissionais da educação que atuam em diferentes contextos e instituições de ensino, podem ser concebidos como membros de uma comunidade ampla de prática docente que aprendem e desenvolvem saberes da prática, mediante processos colaborativos, em comunidades de investigação e/ou em redes. Mas, em nível local, podem emergir comunidades de prática no âmbito de uma escola, em um espaço comum entre escola e universidade, em um espaço virtual, em uma sala de aula, ou mesmo em torno de um grupo de professores que se identificam pela disciplina que ensinam e que cursam. A reflexão e a investigação sobre a prática, desenvolvidas nessas comunidades, podem ser consideradas como parte de um esforço maior de transformar o ensino, a aprendizagem dos professores e os respectivos espaços escolares em que atuam.
No capítulo Comunidades de prática e conflitos de identidade na formação do professor de matemática que ensina estatística os autores discutem a formação do professor como prática social, fazendo uma aproximação com a Teoria Situada da Aprendizagem (Lave 1988; Lave e Wenger 1991). Segundo essa teoria, a aprendizagem, inclusive em ambiente escolar, é compreendida como um fenômeno situado da prática social das pessoas atuando no mundo. Assim, a aprendizagem é entendida como uma forma de pertença, de ser membro de uma determinada comunidade com uma prática comum, na qual mudanças no saber e na habilidade estão associadas às mudanças na identidade. Dessa forma, são realçados alguns aspectos não considerados em outras formas de abordar a aprendizagem, tais como: a identidade e as relações entre novatos e experientes. O principal foco de discussão neste capítulo são os aspectos conflitantes que constituem a identidade do professor de matemática que ensina estatística. A discussão se dá a partir da análise de reflexões de alguns professores formadores, considerados membros experientes da comunidade de prática dos que ensinam Matemática e Estatística.
No capítulo Quando acadêmicos da universidade e professores da escola básica constituem uma comunidade de prática reflexiva e investigativa, o autor descreve e analisa o processo de constituição e desenvolvimento do Grupo de Sábado como comunidade de prática formada a partir do encontro de duas comunidades de prática de educadores matemáticos: professores de matemática da escola básica e professores formadores e acadêmicos do campo da educação matemática da universidade. O autor destaca, primeiramente, o caráter colaborativo e heterogêneo do grupo, tendo por base o conceito bakhtiniano de excedente de visão. Num segundo momento, evidencia o movimento de produção de conhecimentos da prática e de desenvolvimento do grupo e de seus participantes, que acontece mediante práticas compartilhadas de refletir, investigar e narrar por escrito dentro dessa comunidade; que resulta, conforme Wenger (2001), de dinâmicas de negociação envolvendo participação ativa e reificação da prática da comunidade. Além disso, descreve a prática social privilegiada pelo grupo; o aspecto que dá visibilidade e reconhecimento ao grupo; e o que o mantém ativo.
O último capítulo desse eixo, Comunidade de prática virtual: possíveis contribuições para a formação de professores de matemática apresenta um estudo que discute a constituição de uma comunidade de prática em um ambiente computacional no processo de formação continuada de professores de matemática, evidenciando as suas possíveis contribuições para essa formação. Os autores trazem a compreensão de como uma comunidade virtual pode se constituir em uma comunidade de prática. Para tanto, as condições que propiciaram a constituição dessa comunidade foram: a proposta educacional do curso, o ambiente computacional de Educação a Distância –TelEduc –, os alunos-professores e a mediação da professora e da monitora. Nessa comunidade, a prática compartilhada torna-se objeto de reflexão e de investigação. Um dos aspectos fundamentais consiste na dimensão interativa dessa comunidade virtual, a qual propicia diversas formas de interlocução na constituição do conhecimento. A comunidade virtual possibilita aos docentes uma nova modalidade de interação e, portanto, questões inusitadas, que os fazem aprender a (re)significar as suas ações docentes.
Um olhar prospectivo para os estudos do GEPFPM
A última parte do livro é constituída pelo capítulo Inter-relações entre desenvolvimento docente e mudança curricular: um programa de pesquisa em educação matemática, produzido coletivamente por alguns membros do GEPFPM. Trata-se de um ensaio teórico que anuncia um programa de pesquisa baseado na metodologia de meta-análise qualitativa. No âmbito do texto são caracterizadas duas modalidades de pesquisa: as de primeira e as de segunda ordem, destacando o movimento dialético da inter-relação entre o desenvolvimento docente e a mudança curricular. Traz uma síntese das apropriações teóricas do grupo, com a projeção de novas perspectivas de formação e de pesquisa.
Convite ao leitor: produzindo novos tons
A ação de narrar a história da elaboração deste livro que retrata múltiplas dimensões da formação de professores que ensinam matemática se constituiu em representações traçadas a partir de uma pintura, esboçadas por várias mãos... uma pintura, com múltiplos olhares, transformando-se, pouco a pouco, em um projeto possível, que envolveu uma utopia e que pôde ser representado por um retrato, esboçado a várias mãos, culminando na materialização de um desejo.
Apresentamos o nosso retrato/livro. Enunciamos uma pintura sempre a renovar-se. Acreditamos nas palavras de Morin sobre o inacabamento de toda obra, de todo retrato, de toda pintura, de todo livro. Convidamos você para interpretar conosco este retrato, esta pintura, este livro.
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