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SOBRE A COLEÇÃO
É muito bom saber que chama à atenção de muitos educadores os estudos da Psicologia Moral sobre os problemas cotidianos da escola ligados à resolução dos conflitos como a violência, o bullying e os problemas de indisciplina. Os estudos nesta área das ciências têm nos apresentado dados que muito nos incomoda sobre a realidade de nossas escolas. Temos percebido a questão da indisciplina, a relação entre professor e aluno e relação entre os próprios alunos como algo que não anda bem, como situações que têm angustiado aos professores e muitas vezes criado determinadas vitimas – jovens que muitas vezes legitimam formas de violência como algo normal.
Há, portanto, muito a se fazer! Estamos convictos de que esse é o papel da universidade: trazer à comunidade suas experiências e suas contribuições. Assim surgiu essa coleção: do propósito de repensar os problemas que assolam a instituição educativa e de buscar, à luz das contribuições de investigações recentes e de autores que tenham fundamentado tais descobertas, indicativos de como podemos juntos, universidade e escolas de educação básica, atuar frente as dificuldades cotidianas daqueles que têm como objetivo em comum, educar.
Essa coleção leva o mesmo título de um seminário que fora organizado na Faculdade de Educação da Unicamp durante o primeiro semestre de 2009. A demanda pela participação neste momento de formação fora tão grande que resolvemos então fazer uma segunda edição deste mesmo avento no ano de 2009, no segundo semestre. E claro, ainda não foi possível dar conta do número de inscritos e da procura incessante de educadores que desejam saber mais sobre sua tarefa de formar personalidades melhores. Então, surgiu a idéia de que transformássemos a temática das mesas apresentadas em artigos para que pudéssemos atender a crescente necessidade da escola.
Dessa forma, é o que apresentamos nesses três volumes. Na verdade, o primeiro deles se diferencia um pouco dos demais por pretender apresentar uma espécie de “estado da arte” do problema da escola. Para isso, intitulado “Um panorama geral da violência na escola e o que se faz para combatê-la”, esse volume traz uma investigação recente entre professores e alunos visando reiterar dados de diferentes pesquisas que atestam sobre as dificuldades desse cotidiano da escola. Trata-se de uma pesquisa coordenada por nós dentro da linha de pesquisa “Afetividade e virtudes” do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral” cujo foco é caracterizar a violência e as formas pelas quais professores e alunos a vêem na escola. Como em várias outras pesquisas, fica clara a questão da violência enquanto indisciplina, como poderemos constatar nas falas dos participantes.
Introduzido o panorama geral da violência na escola, passamos então para o segundo volume da coleção intitulado “Compreendendo o fenômeno: as classes difíceis, o bullying escolar e as concepções dos educadores”. Como o próprio nome já diz, os temas “bullying” “classes difíceis” e as “concepções de educadores” estão presentes para se pensar questões peculiares desse cotidiano.
O terceiro e último volume da coleção intitulado “Quando o conflito é resolvido: da sala de aula à instituição escolar” reproduz uma espécie de jogo em espiral: volta-se ao professor, e mais que isso, à equipe gestora o papel de rever a própria atuação com vistas a vencer um círculo vicioso que tem se caracterizado o problema da violência na escola. Como fazer para resolver os conflitos presentes nesse cotidiano? Como repensar essa tarefa não solitária do professor na instituição? Como diretores e demais educadores precisam se sentir “pertencentes” à necessidade de resolver os problemas da escola? São questões abarcadas nesse volume.
Os dois últimos volumes que correspondem às discussões que foram realizadas durante os seminários na faculdade de Educação da Universidade de Campinas trazem um capítulo final intitulado: “Provocações”. Trata-se de um recorte de algumas perguntas que foram formuladas por participantes dos eventos citados e que de alguma forma, contribuíram para fortalecer o debate sobre um tema tão conflitante.
Enfim, esta coleção é dedicada àqueles que de alguma forma, solicitaram a contribuição de nossos grupos de pesquisas. É dedicada, sobretudo, a alunos e professores que intensamente sofrem as angústias de um cotidiano violento na escola e que pedem para que mais e mais pessoas possam se solidarizar à tarefa de transformar a instituição escolar, burocrática que é, em espaços que tragam um sentido para uma vida em que respeito, generosidade, tolerância às diferenças sejam conteúdos dos quais não se abre mão. Faz sentido então, humanizar os “bagunceiros”: eles são meus, são seus, são nossos! (Luciene Regina Paulino Tognetta)
INTRODUÇÃO DO VOLUME I
Os objetivos de formação moral preconizados em diferentes documentos legais dentre eles, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBN 9394/96), os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e os Referenciais Curriculares Nacionais (RCN) para a Educação Infantil apontam para a formação ética e para a autonomia. Esses objetivos servem de base para a elaboração dos Projetos Políticos Pedagógicos das escolas, as quais, embora tenham como meta formar pessoas autônomas, muitas vezes, não sabem como favorecer o desenvolvimento da moralidade em seus educandos.
Na maioria das vezes, os profissionais que atuam diretamente com as crianças dentro da escola crêem que a responsabilidade pela formação moral dos pequenos é única e exclusivamente da família, como se ela fosse impotente perante as influências familiares. Pergunta-se então: Por que seria, essa, tarefa da escola?
É no ambiente escolar que muitas relações são estabelecidas, dentro dele há um campo de possibilidades para promoção de relações éticas visto que as crianças convivem diariamente com outros tão iguais, como seus pares, e também tão diferentes, como seus professores. Estes, que deveriam indignar-se quando houvesse injustiças e rejubilarem-se quando houvesse generosidade, muitas vezes, têm sua autoridade acentuada pela maioria das escolas, ficando uma lacuna desfavorável ao desenvolvimento moral das crianças (Tognetta e Vinha 2008).
Por esta razão, a escola deveria ser um ambiente que primasse e favorecesse relações interpessoais pautadas no respeito mútuo, na expressão dos sentimentos, no diálogo, na reciprocidade, na resolução de conflitos que superasse as formas mais primitivas de ação, assim como há décadas pretendia Piaget (2007).
Entretanto, diferentes pesquisas (Apeoesp- Dieese, 2007; Fante, 2003; Leme, 2006; Soares, 2007; Tardeli, 2003, Tognetta, 2009, entre outros) divulgadas sobre violência da escola e na escola contradizem o que se espera deste ambiente, conforme se verá ao longo desta reflexão.
De acordo com Fante (2003) muitos professores dedicam entre 21% e 40% do seu dia de trabalho à resolução de problemas de indisciplina e de conflitos entre seus alunos. Tardeli (2003), que tratou também sobre essa questão mostrou que 77,7% dos professores de Ensino Médio estão desmotivados com a profissão em virtude da mesma situação comportamental.
No que diz respeito aos atos violentos cometidos por alunos dentro da escola, a Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp) e o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Econômicos (Dieese) empreenderam uma investigação no ano de 2006, com 684 professores da rede pública a qual mostrou que dentre as principais causas dessa violência estavam: os conflitos entre alunos (76%); o uso de drogas e álcool (63%); a falta de funcionários (60%) e a pobreza generalizada (45,6%). (Apeoesp- Dieese, 2007).
Como já destacado, a maioria dos profissionais que atuam nas escolas acredita que seja responsabilidade exclusiva das famílias a construção dos valores morais nas crianças e, muitas vezes, atribuem a elas a culpa pelos atos violentos cometidos pelos alunos dentro das instituições escolares; é comum ouvir dos profissionais afirmações como: “a família está desestruturada”, “não impõe limites” (ou não são severos o bastante),“são omissos” e “deixam os filhos afetivamente desamparados”.
Na pesquisa Convivência, conflitos e educação nas escolas de São Paulo, realizada por Maria Izabel da Silva Leme (2006) os resultados apontam a família como problemática. Dentre os 55 diretores que responderam ao questionário aplicado pela pesquisadora, 46% atribuíram à educação recebida no núcleo familiar como fator responsável pelos conflitos ocorridos na escola, 30% imputaram essa responsabilidade à instituição.
Outra causa recorrente nas respostas dos diretores, mostrada no estudo de Leme (2006), relacionava-se à personalidade conflituosa (28%) e intolerante (40%) dos alunos. Já entre alunos e professores as causas dos conflitos foram atribuídas à ausência de limites por parte dos pais (58,8%) e desinteresse dos alunos por qualquer aula (29,4%). Da mesma forma, os diretores atribuíram à ausência de limites na educação (73,5%) como sendo o motivo principal dos conflitos entre alunos e funcionários.
Em uma pesquisa coordenada por Maria Tereza Perez Soares (2007) com 3.500 docentes de diversas regiões do país sobre qual seria a maior insatisfação sentida por eles em relação aos seus alunos, obteve 53,5% das respostas como sendo a falta de respeito seguido do fracasso ao tentar motivar os alunos para as atividades (20,6%). Nesta investigação Soares (2007) levantou ainda as principais dificuldades sentidas pelos professores em seu trabalho, as que mais apareceram foram: a manutenção da disciplina em sala de aula (37,1%) seguida pela educação pautada na construção de valores (34%).
Por fim, a Apeoesp (2008) com vistas a investigar a violência nas escolas públicas solicitou a 580 professores que respondessem a um questionário. Os resultados revelaram que 27% desses professores foram vítimas de violência física e 43% de violência verbal por parte dos seus alunos no ambiente escolar.
Nas pesquisas mencionadas verificamos uma tendência, tanto dos diretores quanto dos professores, de responsabilizar outros atores para os episódios de violência escolar, como a família, a situação econômica e a personalidade do aluno, entre outros, bem como de eximir a responsabilidade dos profissionais da escola pelos conflitos gerados e pela resolução deles.
Diante desses dados, é possível que nos indaguemos: por que os alvos de violência têm sido, frequentemente, o professor? O que esses pensam sobre os problemas de relacionamento interpessoal que são sentidos na escola? E o que pensam seus alunos?
Visando responder essas e outras perguntas que emergem de um cotidiano conflituoso é que nos motivamos a realizar o estudo que agora adentramos.
SUMÁRIO
Introdução
Capítulo 1 – A violência na escola versus a formação ética dos alunos
Entre boas intenções e poucos progressos
A formação ética que pretendemos
Capítulo II – formação ética x violência na escola – o olhar do professor
As dificuldades do cotidiano apontadas pelos professores
As dificuldades do cotidiano: seriam indisciplina?
O que leva à indisciplina? As causas eleitas pelos professores
As tentativas de superação do problema: o que fazer?
Capítulo III – com a palavra, os alunos
Há problemas na relação professor e aluno?
A exclusão da sala como alternativa à formação ética
Os sentimentos expressos pelos alunos
A gravidade das ações:entre regras morais e convencionais não haverá diferenças?
Capítulo IV – Considerações finais
Referências
SOBRE AS AUTORAS
Luciene Regina Paulino Tognetta é doutora em Psicologia Escolar e coordenadora da linha de pesquisa “Afetividade e virtudes” do Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral – GEPEM – Unicamp. (Agradecemos à aluna Liselda Tavares pela colaboração na coleta de dados dessa pesquisa).
Renata Rossi é graduada pelo Instituto de Biociências - UNESP- Rio Claro, tendo cursado Pedagogia. Educadora Infantil do município de Paulínia. Pós- Graduada no curso “As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral”, pela Unifran .
Katiuska Marcela Grana Ferreira cursa mestrado na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas sendo membro do Laboratório de Psicologia Genética da mesma Universidade. Estuda temas relacionados à criança de 0 a 3 anos, atualmente pesquisa as interações sociais entre as crianças pequenas. Também é professora de Educação Infantil na rede municipal de Campinas.
Cássia Domiciano é graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" (Unesp-RC) é mestre em educação pela mesma universidade. Desenvolve pesquisas na área de Política, Gestão e Financiamento da Educação.Pós graduada no curso de especialização “As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral" oferecido pela Universidade de Franca onde atualmente é professora do módulo “Gestão democrática da escola”. É também professora dos anos iniciais do ensino fundamental da rede pública de ensino.
Valéria Cristina Santos Sampaio é graduada pela Faculdade de Educação da UNICAMP em Pedagogia. Coordenadora Educacional em uma escola particular na cidade de Campinas. Pós- Graduada pelo curso “As relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral, pela Unifran”.
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