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É provável que os paulofreireanos tenham percebido que a grande obsessão moderna - a liberdade - talvez tenha se transformado numa quimera insustentável fora de uma filosofia da consciência (o que não significa que não possamos redescrevê-la); também é possível que tenham se dado conta de que os homens estão aparentemente dispostos a trocar a liberdade pela ordem e pela submissão que as instituições asseguram (uma liberdade que, afinal, foi uma fonte permanente de angústia e temor); que estão prontos a negociar, enfim, a autonomia moral e intelectual pela felicidade que o consumo promete. Se isto for verdade, nossos freireanos terão que aceitar a vitória de uma antropologia realista sobre a promessa utópica da “humanização”. Mas, insistindo no freireanismo - e eis aqui o bom motivo pelo qual “ainda somos freireanos” - seus seguidores garantiriam, numa espécie de razão cínica (Sloterdijck), que o nome do Mestre continuasse a ser invocado e cultuado (uma garantia de legitimidade), mas, como naquela passagem do Grande Inquisidor (Dostoievsky), sob a impreterível condição de que... não voltasse nunca mais, nunca mais!
Enquanto escrevo este prefácio vejo acadêmicos e jornalistas procurando compreender o que fez com que milhares de pessoas, muitas vezes liderados por jovens até há pouco tempo considerados alienados pelo consumo e redes digitais fossem para as ruas. As explicações são tão variadas quanto as bandeiras levantadas nas manifestações. Parece que todos têm razão em seus argumentos, mas também parece que não se alcança aquela explicação que dê conta de tudo o que está em jogo nos protestos. A realidade nos surpreende, desacomoda e questiona. Basta que estejamos abertos para perceber, sentir e pensar o que está à nossa volta.
Flávio Brayner é um pensador que se permite sair de lugares seguros propiciados pela fidelidade a uma corrente filosófica e pedagógica ou pela adesão a algum intelectual de moda. [...] São textos escritos com uma verdadeira paixão pelo pensar, que é ao mesmo tempo uma finalidade em si e um meio para a construção do futuro. (do Prefácio de Danilo R. Streck)
SOBRE O AUTOR:
Flávio Brayner, 60, é Professor Titular da Universidade Federal de Pernambuco. Mestre em História (UFPE), Doutor em Educação (Paris V) e Pós Doutor em Filosofia (Paris VIII). Foi Professor Convidado da Université de Montpellier III, Ex-Secretário Adjunto de Educação do Recife e Coordenador do GT 06 (Educação Popular) da Anped. É autor de vários artigos e livros na área da Filosofia da Educação e da Educação Popular.
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