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Detalhes da Obra Mercado de Letras •
Defesa, Segurança Internacional e Forças Armadas II

II Encontro da ABED Eduardo Svartman, Maria Celina d’Araujo, Samuel Alves Soare (orgs.)

 

• Eduardo Svartman
• Maria Celina d’Araujo
• Samuel Alves Soares

 

Esta coletânea de textos apresentados no II Encontro Nacional da Associação Brasileira de Estudos de Defesa (ABED) é uma pequena, porém qualificada, amostra do que vem sendo pesquisado no Brasil sobre Forças Armadas, temas estratégicos e defesa.
O livro reúne trabalhos originais de profissionais de diferentes áreas do conhecimento que abordam, por ângulos distintos, temas variados envolvendo as relações internacionais do Brasil, com destaque no Haiti, as grandes questões estratégicas relativos a indústria de defesa, Amazônia e segurança internacional, as teorias sobre guerra e os novos temas ligados a memória, cultura, socialização e relações de gênero no meio militar.
A variedade temática reflete o amadurecimento dos estudos nesse campo de conhecimento e o caráter integrador e articulador da ABED.


PARTICIPAM DA COLETÂNEA:

Adriana Marques – Doutora em Ciência Política pela Universidade de São Paulo. Realiza pesquisa de pós-doutorado no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil da Fundação Getulio Vargas.

Braz Batista Vas – Doutorando em História pela Universidade Estadual Paulista (Unesp-Franca); professor assistente do curso de História da Universidade Federal do Tocantins (UFT- Araguaína); membro do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes-Unesp) e do Núcleo de Pesquisa e Estudos da Violência (Nupev-UFT).

Daniela Schmitz Wortmeyer – Graduada em Psicologia, mestre em Psicologia Social, e capitão do Quadro Complementar de Oficiais do Exército. Principais interesses de pesquisa: socialização militar, internalização de valores em processos educacionais, cultura organizacional militar.

Danilo Marcondes de Souza Neto – Bacharel em Relações Internacionais pelo IRI/PUC-Rio com intercâmbio acadêmico na State University New Yorkt at New Paltz (SUNY New Paltz) e mestrando em Relações Internacionais no IRI/PUC-Rio.

Eduardo Munhoz Svartman – Professor de história da Universidade de Passo Fundo (UPF) mestre em história e doutor em ciência política pela UFRGS, conselheiro fiscal da ABED e coordenador do GT de História das Relações Internacionais da ANPUH-RS. Atualmente investiga as relações militares entre o Brasil e os EUA.

Érico Duarte – Doutorando em Estudos Estratégicos pela COPPE/UFRJ. Mestre em Estudos Estratégicos (2003) pela mesma instituição e Bacharel em Relações Internacionais pela UnB (1999). Membro do Grupo de Estudos Estratégicos. Pesquisa nas áreas de logística, teoria da guerra, história da guerra e relações internacionais.

Fernanda Chinelli – Bacharel em Jornalismo (Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro) e mestra em Antropologia Social (Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Museu Nacional/UFRJ). Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social do Museu Nacional.

Fernanda de Abreu Prazeres – Mestranda em Relações Internacionais e De Sardon-Glass Fellow da Maxwell School da Syracuse University e pesquisadora assistente do Instituto Moynihan.

Flávio Augusto Rios Abreu -- Mestrando da Escola de Pós-Graduação em Economia na Fundação Getúlio Vargas/RJ.

Gabriel Semerene Costa – Estudante de graduação em Relações Internacionais na Universidade de Brasília.

Izadora Xavier do Monte – Mestranda em Política Internacional e Comparada no programa de pós-graduação em Relações Internacionais da Universidade de Brasília.

Maria Celina D’Araújo – Doutora em ciência política, professora titular da Fundação Getulio Vargas no Rio de Janeiro e professora orientadora da Pós-Graduação em ciência política da Universidade Federal Fluminense, Niterói. Diretora acadêmica da ABED (2008-2010).

Maria Izabel Mallmann – Professora Adjunta de Ciência Política do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Mariza Ribas d’Ávila de Almeida – Mestre em Política Social pela Universidade Federal Fluminense, Assistente Social formada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Linha de Pesquisa: Gênero e Forças Armadas.

Oscar Medeiros Filho – Geógrafo e oficial do Exército Brasileiro. Atualmente é professor da Escola Preparatória de Cadetes do Exército e doutorando em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.

Paulo Roberto de Almeida – Doutor em Ciências Sociais, mestre em Planejamento Econômico, diplomata de carreira; professor de Economia Política Internacional no Mestrado em Direito do Centro Universitário de Brasília (Uniceub).

Renata Avelar Giannini – Mestre em Relações Internacionais pelo Programa de Pós Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (Unesp-Unicamp-PUC-AP), membro do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (Gedes e do Observatório de Política Externa Brasileira (Opeb).

Samuel Alves Soares – Professor da área de Relações Internacionais na Universidade Estadual Paulista UNESP. Doutor em Ciência Política, é professor do programa de pós-graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas e do programa de pós-graduação em História. Pesquisador do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional Gedes/Unesp.

Severino de Ramos B. da Paixão – Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política (PPGCP-UFF) e oficial do Exército Brasileiro, representante da Escola de Comando Estado-Maior do Exército (Eceme).

Teresa Maria Grubisich – Doutora em Estudos Literários pela Universidade Estadual Paulista (Unesp-Araraquara) e Mestre em Letras (Unesp-Assis); professora na área de Ciências da Linguagem da Academia da Força Aérea. É membro do Grupo de Pesquisas Educação e Ontologia do Ser Social, GREOSS (Unesp-São José do Rio Preto) e de Estudos de Dramaturgia Moderna (UEL).

Valério Luiz Lange – Major de Artilharia do Quadro de Estado-Maior da Ativa do Exército Brasileiro. Em 2009, encontra-se cursando a Escola de Comando e Estado-Maior do Exército dos EUA. Graduado pela AMAN; Mestre em Operações Militares EsAO, Doutorado em Ciências Militares, pela ECEME; Observador Militar brasileiro da ONU junto à Força-Tarefa de Paz Argentina no Chipre (UNFICYP).

Virgínia Mercês Guimarães Carvalho – Mestranda do Programa de Pós-Graduação em História do Norte-Nordeste do Brasil da Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe) e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).


TEMAS ABORDADOS NA COLETÂNEA E SEUS RESPECTIVOS AUTORES:

APRESENTAÇÃO
Eurico de Lima Figueiredo

PARTE I – TEORIAS SOBRE A GUERRA

UMA PAZ NÃO-KANTIANA? SOBRE A PAZ E A GUERRA NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO
Paulo Roberto de Almeida

A ANÁLISE CRÍTICA DE CLAUSEWITZ (KRITIK): O POTENCIAL EPISTEMOLÓGICO DA TEORIA DA GUERRA
Érico Esteves Duarte

AS FORÇAS ARMADAS E A BUSCA DO CONHECIMENTO: A GUERRA PÓS-MODERNA
Teresa Maria Grubisich


PARTE II – TEMAS ESTRATÉGICOS: INDÚSTRIA DE DEFESA, AMAZÔNIA E SEGURANÇA INTERNACIONAL

UMA EQUIPE INTEGRADA DE TRABALHO: COOPERAÇÃO ENTRE O EXÉRCITO E A BASE INDUSTRIAL DE DEFESA NO BRASIL
Valério Luiz Lange

SEGURANÇA ESTATAL, CULTURA ESTRATÉGICA E DOUTRINA MILITAR
Adriana Marques


PARTE III – MISSÕES DE PAZ E HAITI

UMA ANÁLISE CONCEITUAL ACERCA DAS EMERGÊNCIAS COMPLEXAS E A ATUAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS
Renata Avelar Giannini

O IMPACTO DOS NOVOS PARÂMETROS ADOTADOS PELAS NAÇÕES UNIDAS PARA AS OPERAÇÕES DE PAZ NA TRADIÇÃO DA POLÍTICA EXTERNA BRASILEIRA
Severino de Ramos Bento da Paixão

A PARTICIPAÇÃO E A COOPERAÇÃO ENTRE OS PAÍSES DO CONE SUL EM OPERAÇÕES DE PAZ: O CASO DA MINUSTAH
Danilo Marcondes de Souza Neto


PARTE IV– O BRASIL E A AMÉRICA DO SUL

INTERDEPENDÊNCIA E SEGURANÇA REGIONAL NA AMÉRICA DO SUL
Maria Izabel Mallmann

GEOGRAFIA POLÍTICA SUL-AMERICANA E PERCEPÇÕES DAS AGÊNCIAS DE DEFESA
Oscar Medeiros Filho

BRASIL E ARGENTINA: RACIONALIZANDO TENSÕES E PAZ (1870-1991)
Flávio Augusto Rios Abreu

AÇÕES MILITARES E DIPLOMACIA: CONSIDERAÇÕES ACERCA DO BRASIL E AS PROVIDÊNCIAS EM RELAÇÃO AO FIM DA GUERRA DO PARAGUAI
Braz Batista Vas


PARTE V – GÊNERO E “FAMÍLIA” MILITAR

A INCLUSÃO DA PERSPECTIVA DE GÊNERO NAS OPERAÇÕES DE PAZ DAS NAÇÕES UNIDAS
Fernanda de Abreu Prazeres
Gabriel Costa Semerene
Izadora Xavier do Monte

CONTEXTO POLÍTICO-INSTITUCIONAL DO PROCESSO DECISÓRIO SOBRE A ADMISSÃO DA MULHER MILITAR
Mariza Ribas D`Avila de Almeida

A CASERNA VISTA DA CASA: O TRABALHO DE CAMPO COM FAMÍLIAS DE MILITARES
Fernanda Chinelli


PARTE VI – MEMÓRIA, CULTURA E SOCIALIZAÇÃO

A MULTIPLICIDADE DE MEMÓRIAS E “LUGARES DE MEMÓRIA”: O BRASIL NA GUERRA
Virgínia Mercês Guimarães Carvalho

INTRODUÇÃO A UMA PERSPECTIVA PSICOSSOCIOLÓGICA PARA O ESTUDO DAS FORÇAS ARMADAS
Daniela Wortmeyer


APRESENTAÇÃO

Este livro oferece-nos seleção dos trabalhos apresentados no Segundo Encontro Anual da Associação Brasileira de Estudos de Defesa, a ABED, realizado entre os dias 15 e 19 de julho de 2008, na Universidade Federal Fluminense (UFF). Ele dá seqüência ao primeiro volume que resultou do evento realizado no ano anterior, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Para uma entidade criada tão recentemente, em 2005, ambos servem para colocar em evidência a qualidade e a extensão da comunidade de pesquisadores na área, além da variedade de seus interesses.
Em 2005, na reunião que levou à fundação da ABED, estabeleceram-se os principais objetivos da nossa entidade. Ela deveria propiciar não só a organização dos pesquisadores no campo de estudos da defesa, como também permitiria levar nossas demandas comuns às agências públicas de financiamento e apoio científico às nossas atividades. Personalidades e instituições preeminentes em nosso campo de estudo e pesquisa logo trouxeram seu apoio. Em nosso primeiro encontro, em 2007, na UFSCar, o professor Eliézer Rizzo de Oliveira aceitou pronunciar a conferência inaugural, enquanto o professor José Murilo de Carvalho concordou em oferecer a conferência de encerramento. Mesmo sendo escassos os recursos para uma maior divulgação, mais de uma centena de profissionais e estudantes da pós-graduação enviaram seus trabalhos à comissão organizadora do primeiro encontro da ABED, atendendo aos esforços de nosso primeiro presidente, professor João Roberto Martins Filho. De modo mais ou menos inesperado, contou-se, até mesmo, com a presença e/ou participação de colegas estrangeiros da Argentina, Estados Unidos, França, Portugal e Nova Zelândia. O meio militar não deixou de marcar sua presença. Compareceram representantes do Estado Maior do Exército, e a Aeronáutica providenciou a ida de um grupo de cadetes da Academia da Força Aérea. Tanto da reserva como da ativa, oficiais superiores e oficiais generais das três forças envolveram-se nas atividades, levando os resultados de seus trabalhos e pesquisas, ou simplesmente assistindo o encontro na qualidade de ouvintes. A primeira diretoria convidou os professores Maria Celina D'Araújo, Samuel Alves Soares e Suzeley Khalil Mathias para selecionar os trabalhos mais representativos do encontro. O resultado – publicado sob patrocínio do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento (CNPq) e da própria ABED – culminou no livro Defesa, Segurança Internacional e Forças Armadas, lançado ano passado.
A segunda reunião experimentou ainda maior movimentação, tendo em vista que nessa oportunidade houve maior tempo para o planejamento, e elegeu-se como tema central A Defesa Nacional. Cerca de 220 expositores – entre conferencistas, coordenadores de sessões temáticas, coordenadores de painéis e panelistas, presidentes de mesas redondas e seus convidados – apresentaram-se perante uma audiência de aproximadamente 600 assistentes. O leque de interesses foi amplo, assim como foram significativas as instituições representadas. As conferências ficaram a cargo do V. Alte. Carlos Afonso Pierantoni (vice-presidente executivo da ABINDE), do jornalista Mauricio Azedo (presidente da ABI), do Almirante de Esquadra Mauro César Rodrigues Pereira (ex-ministro da Marinha), do deputado Raul Jungmann (da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Congresso Brasileiro), do embaixador Samuel Pinheiro Guimarães (secretário-geral do Itamaraty) e do ProfessorWaldimir Pirró e Longo (UFF).
Ocorreram oito sessões temáticas subdivididas em quatro painéis, cada um deles coordenado por um gerenciador/organizador das atividades. A responsabilidade por cada sessão ficou a cargo de um coordenador geral. O professor Domício Proença Júnior da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) coordenou a sessão Quais Teorias para os Estudos de Defesa?; o professor Francisco Carlos Teixeira da Silva da UFRJ coordenou a sessão Segurança Internacional em Perspectiva Comparada; a professora Maria Celina D’Araújo da Fundação Getúlio Vargas (FGV-RJ) coordenou a sessão Forças Armadas e Gênero; o professor Manuel Domingos Neto da UFC coordenou a sessão Ciência, Tecnologia e as Forças Armadas; o professor Renato Lemos da UFRJ coordenou a sessão Forças Armadas e Sociedade; o professor Samuel Alves Soares da Universidade Estadual Paulista (Unesp-Franca) coordenou a sessão Percepção Regional sobre Segurança e Defesa; o professor Sérgio Luiz Cruz Aguilar do Centro Universitário Eurípides de Marilia (UNIVEM)/Grupo de Análise de Prevenção de Conflitos Internacionais/(Gapcon)– Universidade Cândido Mendes (Ucam), substituindo Clóvis Brigagão da (Ucam), coordenou a sessão Segurança e Defesa – Prevenção e Resolução de Conflito; e o professor Vagner Camilo Alves da UFF coordenou a sessão Defesa Nacional e Segurança Internacional.
As mesas redondas foram presididas pelos pesquisadores Antônio Jorge Ramalho da Universidade de Brasília (UNB) (Missões de Paz e Interação Civil-Militar: Implicações para as Políticas de Defesa e Externa do Brasil); general Aureliano Pinto de Moura, presidente do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil (IGHMB) (Historia Geral do Brasil e História Militar do Brasil); professor Celso Castro da FGV-RJ (Questões de Método nas Pesquisas sobre os militares); professor Eliézer Rizzo de Oliveira da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Mackenzie (Livro de Defesa e Defesa Nacional); professor Eurico de Lima Figueiredo da UFF (Cooperação Civil-Militar na Educação, Ciência e Tecnologia); Professor Héctor Saint-Pierre da Unesp-Franca (Política de Defesa Nacional e Livros Brancos); professor João Quartim de Moraes da Unicamp (Pan-americanismo e Defesa Nacional); professor Paulo Baia da UFRJ (Forças Armadas, Segurança Pública e Demandas por Direitos); professor Paulo Ribeiro da Cunha da Unesp-Marília (Militares e o Marxismo no Brasil); e professor Waldimir Pirró e Longo da UFF (Defesa Nacional: Vulnerabilidades e Problemas na Área Tecnológica). Tal como acontecera da vez anterior, a diretoria da ABED, já sob minha presidência, encarregou aos professores Eduardo Svartman (Universidade de Passo Fundo – UPF), Maria Celina D'Araújo (FGV-RJ) e Samuel Alves Soares (Unesp-Franca) a seleção das contribuições apresentadas nos diversos campos temáticos. O resultado materializou-se neste livro, que, mais uma vez, contou com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da própria ABED.
O primeiro livro selecionou 17 trabalhos, sendo cinco sobre “Estratégia e Defesa”, cinco sobre a rubrica “Perspectivas Históricas”, três relativos aos “Estudos de Gênero”, dois a respeito de “Missões e Recrutamento”, e dois acerca da “Formação”. Este segundo apresenta 18 trabalhos divididos em 6 partes: “Missões de Paz e Haiti” (3); “Gênero e Família Militar” (3); “Brasil e a América do Sul” (4); “Temas Estratégicos: indústria, Amazônia e Segurança Internacional” (2); “Teorias sobre Teorias de Guerra” (4), e “Memória, Cultura e Socialização” (2). Há certa superposição dos interesses entre as áreas temáticas escolhidas para compor os dois volumes, com exceção, no segundo tomo, de uma parte dedicada às questões teóricas (“Teorias sobre Teorias de Guerra”). Mais do que no primeiro volume, deve ter sido mais difícil para os organizadores o agrupamento dos trabalhos, já que foi bastante extenso o leque dos assuntos apresentados no segundo encontro. Em seu total, os dois livros somaram 35 artigos produzidos nos últimos dois anos, o que serve para indicar, se não o “estado das artes” no campo dos estudos estratégico, a gama (incompleta) de interesses da comunidade.
É sempre conveniente se ter em vista a necessária perspectiva histórica em relação a nós mesmos. Escrevendo há mais de 20 anos, Alfred Stepan, conhecido estudioso das relações entre forças armadas e sociedade no Brasil, assinalava, em 1988, a carência de uma comunidade de pesquisadores capazes de participar ou influir profissionalmente nos assuntos da área. (Stepan, Alfred (1988). Rethinking Military Politics – Brazilinthe Southern Zone, Princenton, Princeton University Press.) Seu registro encaixava-se, em termos mais gerais, nas considerações relativas à posição dos militares nos regimes que, na época, transitavam para a democracia (Argentina, Brasil, Chile, Espanha e Uruguai, com especial ênfase no caso brasileiro). Em termos mais particulares, destacava as dimensões das prerrogativas militares, chamando a atenção, entre outros aspectos, para a quase inexistência de especialistas civis capazes de colaborar na análise rotineira dos assuntos da defesa. Como conseqüência, a ausência de expertise civil deixava os órgãos do Executivo e o Congresso, além dos próprios partidos políticos, sem possibilidade de contar com o aporte de estudos e pesquisas necessários à devida instrumentalização de suas políticas, que ficavam assim sob a influência dos militares. Como os assuntos relativos à defesa e segurança, nas sociedades democráticas, são de interesse maior da sociedade, e não apenas dessa ou daquela corporação, Stepan identificava na carência um dos obstáculos ao fortalecimento das instituições de direito no país. A preocupação do brasilianista encontrava também ressonância, mais ou menos na mesma época, nas reflexões dos estudiosos brasileiros, tais como Eliézer Rizzo de Oliveira. (“A situação torna-se mais grave dado que ainda são pouco relevantes o estudo e o debate de questões estratégicas fora do âmbito militar. Há esforços consideráveis nesse sentido, mas os resultados e a sua expressão permanecem discretos”. Oliveira, Eliézer Rizzo de (1987). “Constituinte, Forças Armadas e Autonomia Militar”, in: Oliveira, Eliézer Rizzo de et al. As Forças Armadas no Brasil. Rio de Janeiro, Espaço e Tempo.)
Mais recentemente, em 2001, Shiguenoli Miyamoto, em trabalho apresentado no Center for Hemispheric Defense Studies, chamava a atenção para o fato de que, na década de 1970, contava-se nos dedos os pesquisadores na área, citando Alexandre de Barros, Edmundo Campos Coelho, Eliézer Rizzo de Oliveira, René Dreifuss, além do apresentador deste livro, entre outros poucos mais. (Miyamoto, Shiguenoli (2001). “Os Estudos Estratégicos e a Academia Brasileira: Uma Avaliação”, trabalho apresentado no Center for Hemispheric Defense Studies, REDES 2001, Research and Education in Defense and Security Studies, May, Washington DC, pp. 22-25.) O autor ofereceu alguns motivos para o desenvolvimento lento e tardio das pesquisas na área, entre eles a dificuldade de consultas às fontes primárias colocadas sob severa vigilância castrense e a censura à imprensa, particularmente forte até 1975. Tal situação adversa para os pesquisadores brasileiros permitiu que grande parte da literatura sobre o tema entre os anos 1960 e 1980 tivesse a autoria de pesquisadores estrangeiros, principalmente norte-americanos, capazes, com maior êxito, de ter acesso aos documentos e personalidades militares. Haveria também certa resistência dos estudiosos nacionais em se dedicarem a esses temas, possivelmente “com receio de serem identificados como simpatizantes do regime militar”. Com a quebra do ciclo autoritário, entretanto, começaram a surgir no Brasil os primeiros centros de estudos estratégicos no âmbito acadêmico. (Coube ao professor Eliézer Rizzo de Oliveira coordenar a implantação do Núcleo de Estudos Estratégicos (NEE) da Unicamp entre 1985 e 1986. O Núcleo de Estudos Estratégicos (NEST) foi criado em 12 de agosto de 1986 na UFF, tendo René Dreyfuss como coordenador executivo e Eurico de Lima Figueiredo como coordenador adjunto. Após longo período de inatividade, o Nest-UFF foi recriado em 11 de dezembro de 2003, retomando suas atividades a partir de 2004 sob a coordenação geral de Eurico de Lima Figueiredo, que permanece no cargo até hoje.)
Esses dois volumes sob a égide da ABED, assim como os encontros nacionais por ela patrocinados, mostram que a área se encontra em fase de rápido crescimento e maturação. Falta, contudo, por parte das agências de fomento, compreensão mais generosa, larga e altaneira da importância dos assuntos da defesa e segurança na atualidade brasileira. Nossa comunidade precisa, em contrapartida, cada vez mais, fazer-se presente e atuante nesses órgãos. A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), em parceria com o Ministério da Defesa, lançou em 2005 e 2008 os Programas Pró-Defesa, que deram grande alento à nossa comunidade em todo o Brasil. O CNPq, entretanto, não mostrou em relação à nossa área igual sensibilidade. No ano passado a agência não só extinguiu o comitê temático de defesa, rejeitando parecer dos professores Eliézer Rizzo de Oliveira e Antônio Jorge Ramalho que recomendava sua manutenção e mesmo ampliação. Desconsiderou, também, todas as propostas relativas aos chamados institutos nacionais encaminhadas nos termos do Edital 15 MCT-CNPq. A ABED não ficou inerte. Levou seu descontentamento ao presidente do CNPq solicitando, sem resposta, entrevista sobre o assunto. O presidente da associação publicou artigo no Jornal da Ciência da SBPC protestando contras esses fatos, além de ter dirigido mensagem ao presidente da SBPC, igualmente sem retorno. Manifestou desagrado perante o Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Estratégicos, salientando que tais decisões contrariavam as orientações da própria Estratégia Nacional de Defesa editada em dezembro de 2008 pelo presidente da República. Levou seu protesto ao presidente da Frente Parlamentar pela Defesa Nacional, deputado Raul Jungmann. O parlamentar, que é também membro da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional, e presidente da Frente Parlamentar pela Defesa Nacional, conseguiu aprovar naquele foro, por unanimidade, audiência pública com os ministros da Defesa e Ciência e Tecnologia, além do próprio presidente do CNPq, para que, juntamente com o presidente da ABED, manifestassem-se sobre a questão. No momento em que se escreve esta apresentação a data da audiência ainda não foi marcada.
Manuel Domingos Neto, grande inspirador de nossa associação, tem se batido entre nós sobre a necessidade de esclarecermos o que queremos dizer com Estudos da Defesa, e qual a sua importância para o país. Domingos Neto, Manuel (2007). “Defesa e Segurança como Área de Conhecimento Científico”, in: Tensões Mundiais, vol. 2, nº 3, jul-dez/2006, pp. 136-147. A primeira versão desse texto consta da coletânea VI Encontro Nacional de Estudos Estratégicos (2007), publicado pela Escola de Guerra Naval, pp. 363-370.) Precisa-se definir o conteúdo dessa área do conhecimento, suas diversas especialidades e suas conexões com outras já consagradas. Sem isso, a avaliação científica de nossos pleitos torna-se problemática. Estar-se-á sempre correndo o risco de sermos aferidos por colegas estranhos à comunidade, sem condições de apreciar adequadamente os méritos intrínsecos das propostas dos pesquisadores, para não se falar na estimativa adequada de destinação de recursos. Definindo a identidade do nosso próprio objeto de estudos e pesquisas, seremos capazes de melhor informar a comunidade científica, as autoridades governamentais, os parlamentares, os militares, os diplomatas, os meios de comunicação, enfim, a própria sociedade sobre nossos objetivos e interesses. Como assinala Domingos Neto, os cientistas de um país que tem sua história marcada pela participação militar nos mais diversos âmbitos e níveis da organização social, não podem ficar alheios às questões referentes à defesa e à segurança, temas tão importantes para a soberania nacional e o fortalecimento das instituições democráticas de direito. Não há exemplo de área do conhecimento que se desenvolva sem reconhecimento institucional e amparo do Estado. Quando o poder público quer resolver problemas de saúde, estimula médicos, farmacêuticos etc. Quando quer desenvolvimento agrícola, oferece condições de trabalho a agrônomos, veterinários. Não poderá ser diferente com temas de caráter estratégico. A ABED fará os esforços necessários para que, o mais rapidamente possível, seja promovido amplo e irrestrito debate entre nós sobre o assunto visando à elaboração de um documento inicial.
Combate-se melhor quando se sabe por que se combate. De igual modo, pesquisa-se mais e melhor quando se dispõe da noção precisa de que o conhecimento produzido é da maior importância para a sociedade, se não mesmo vital. Notadamente, no campo das ciências humanas, a produção científica exige ampla e irrestrita liberdade acadêmica. Nos tempos do regime autoritário, muitos se afastaram do estudo e da investigação sobre a temática estratégica não só devido às dificuldades de pesquisa. Os militares viam com suspeição os pesquisadores civis na área. Esses últimos, em contrapartida, devolviam a suspeição com retraimento, se não mesmo temor, receio. Uma nova geração de pesquisadores vai se formando consciente de que a questão da defesa nacional é um assunto que não pode ser monopolizado pelos aparelhos de estado, nem por um punhado de personalidades, por mais ilustres e competentes que possam ser. Vive-se outra época no estado democrático de direito. A desconfiança entre civis e militares vem sendo substituída pela mútua confiança e lealdade, porquanto são comuns e elevados os interesses maiores. A questão da defesa nacional não é questão desse ou daquele grupo, mas da sociedade como um todo. Seu verdadeiro titular é a cidadania que com seu trabalho e impostos financia o aparato de defesa. As questões da defesa e segurança compõem uma área do conhecimento que diz respeito à soberania da sociedade e ao seu lugar no concerto das nações. Se a comunidade de pesquisadores civis e militares é ainda pequena para as necessidades do país, ela tende a crescer cada vez mais em quantidade e qualidade. Este segundo livro sob a égide da ABED é documento vivo que atesta isso. (Eurico de Lima Figueiredo)


 
 
Por: R$ 0,00
ISBN: 978-85-7591-112-9
Páginas: 378
Formato: 14 x 21 cm
Altura: 21 cm
Largura: 14 cm
Profundidade: 2 cm
Acabamento: Brochura
Edição:
Idioma: Português
Ano: 2009
 
 
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