Explicar as ações humanas e como essas se tornam morais tem sido a tarefa de inúmeras pesquisas na Psicologia Moral. Esse livro busca apresentar uma discussão atual sobre Moral e Ética que possa compreender como as ações humanas podem ser generosas. Entendendo que uma virtude é uma disposição que depende mais do que da tomada de consciência do outro, – já que não se situa no campo dos direitos e das obrigações – considera-se que sua integração à identidade do sujeito dependerá dos investimentos afetivos que a tornarão um valor. Tais estudos validam a intenção deste livro de discutir as correspondências entre ética (como o sujeito se vê) e moral (como julga as situações morais).
“Quando se pensa na dimensão afetiva da moralidade, uma primeira idéia que pode ocorrer é procurar estudar sentimentos morais (compaixão, culpa, apego etc.) que, enquanto tais, são reguláveis pela razão. (...) Por exemplo, costumamos sentir compaixão por pessoas e eventos que julgamos dignos de tal sentimento (pouca gente, imagino, sente compaixão por milionários que perderam alguns milhares de dólares numa crise financeira, mas muitas pessoas experimentarão esse sentimento ao se tratar de uma pessoa pobre que perdeu R$ 200,00). Mas o problema de se destacar uma lista de sentimentos é que se corre o risco de fragmentar o universo moral. Por exemplo, a compaixão associa-se à generosidade, mas não à justiça. Uma pista para resolver o problema foi dada pelo próprio Piaget quando observou que, na autonomia moral, é a personalidade toda do indivíduo que está em jogo. Dito de outra forma, o sujeito autônomo investe sua personalidade na moralidade, ele a vive como parte integrante de seu ser, notadamente porque ele a vê, não como sistema exterior ao qual obedece, mas sim como a sua obra, construída em cooperação com outros sujeitos autônomos. Embora Piaget não tenha falado “personalidade moral”, certos autores, grosso modo a partir de final do século passado, passaram a empregar essa expressão, ou outras parecidas como “personalidade ética”, que pessoalmente prefiro. Ora, é justamente nessa nova abordagem teórica ... que o livro de Luciene se insere. Em linhas gerais, tal abordagem considera que agem moralmente as pessoas para quem “ser elas mesmas” e “agir moralmente” são uma e mesma coisa.” (do prefácio de Yves de La Taille)