A temática que orientou esta obra gira em torno das chamadas novas tecnologias e do impacto que elas têm causado no cotidiano de cidadãos brasileiros, trazendo transformações inevitáveis para a constituição da subjetividade dos usuários, para o ensino e para a sociedade de modo geral. Embora se possa dizer que a temática não seja tão original assim – uma vez que proliferam livros e artigos em torno da escrita na internet; da linguagem usada na internet (o chamado internetês); do uso de computadores no ensino presencial e, sobretudo, no ensino a distância, em todas as disciplinas acadêmicas, desde o ensino fundamental até os cursos de pós-graduação - a forma de tratamento dado ao tema, a base teórica que fundamenta a análise dos diferentes corpora constituem aspectos inovadores.
De um lado, moveu-nos a preocupação em não propor soluções nem sugestões de material didático ou de metodologia, mas em lançar um olhar questionador e proble-matizador sobre uma realidade inelutável e contra a qual nada há a fazer a não ser desnaturalizá-la para que compreendamos alguns de seus possíveis efeitos na sociedade e na constituição subjetiva dos usuários – dentre os quais nós mesmos – e, assim, não sejamos surpreendidos por mudanças drásticas no modo de pensar e agir daqueles que se relacionam conosco. Por outro lado, a preocupação em não considerar de antemão que a solução dos problemas práticos do dia a dia no ensino de línguas (área que nos interessa de perto) está nas mãos da tecnologia, como parecem pressupor textos da área e orientações do MEC estimulando o EaD, por exemplo.
Embora o ensino a distância se pareça mais democrático, é ainda mais autoritário, na medida que permite ao professor um maior controle sobre o aluno: ele pode retornar ao ambiente virtual e rever a posteriori a aula, as discussões, o que cada aluno falou, quem não participou, quem não abriu a página para fazer as atividades propostas, a que horas cada aluno se conectou etc. etc. Seria, então, mais democrático o ensino a distância? Formaria um aluno mais autônomo? O material seria realmente novo? O que se retoma do ensino presencial e o que se apresenta de forma diferente? O aumento de motivação, se isso de fato acontece, deve-se a quê? Ao material, à ausência do professor ou ao veículo? A representação de aluno não corresponde àquelas encontradas nas aulas presenciais ou nos materiais didáticos em papel? Como os textos escritos diretamente em píxeis, digitados, portanto, no teclado (como os blogs escolares) funcionam? Em que se distinguem das redações escolares (em papel?). Essas são algumas das questões que nos interessa responder, embora apenas algumas constituam objeto de algum capítulo desta obra.