A Sociologia, a Psicologia, a Lingüística e as ciências da educação emergiram tendo como pano de fundo complexos debates sobre os modelos de referência e sobre a delimitação e a definição das unidades de análise de comportamentos, condutas, representações, signos, fatos sociais etc.
Nesse contexto de início do século XX constituiu-se um amplo movimento transversal que postulou a unidade do objeto das Ciências Humanas/Sociais e que, conseqüentemente, propôs a articulação dessas disciplinas no quadro de uma “ciência do espírito e da socioistória”. Posteriormente chamada de Interacionismo Social, essa corrente sustentava que a problemática da construção do pensamento consciente humano devia ser tratada paralelamente à da construção do mundo dos fatos sociais e das obras culturais e considerava que os processos de socialização e os processos de individuação são duas vertentes complementares do mesmo desenvolvimento humano. Sustentava-se ainda que os problemas de intervenção prática (e principalmente as questões de educação e de formação) são centrais para qualquer ciência do humano e que, conseqüentemente, devia ser fortemente considerada a questão do agir humano em suas relações com o mundo físico, com o pensamento, com a organização social e com a linguagem.
Combatido, tornou-se minoritário e, depois, quase desapareceu, devido à emergência de determinadas correntes que reivindicavam a impermeabilidade e a autonomia total de cada uma das Ciências Humanas, baseando-se no positivismo em sua vertente estruturalista.
A proposta deste livro é a de apresentar os objetivos, a metodologia e alguns dos resultados já obtidos em projeto de pesquisa desenvolvido pelo grupo Langage, Action, Formation (LAF). Os três primeiros capítulos se dedicam a uma extensa revisão teórica, abordando-se, sucessivamente: – as principais teorias do agir (ou da ação, ou da atividade) propostas pela Filosofia, pela Sociologia e pela Psicologia; as concepções de linguagem como atividade e os aportes das ciências do discurso; – a problemática do trabalho como forma de agir e as questões e os aportes da análise do trabalho. No quarto capítulo, expomos os princípios gerais do Interacionismo Sociodiscursivo, nos quais o LAF se inspira, e depois, integrando a esse quadro os aportes das teorias do agir, apresentamos as perguntas que orientaram a pesquisa. No quinto capítulo, descrevemos o dispositivo da pesquisa e os principais métodos de análise utilizados. Enfim, no último capítulo, apresentamos uma síntese dos principais resultados aos quais os diversos tipos de análise dos corpora constituídos deram lugar, análises essas que são, no entanto, parciais e que continuarão a ser realizadas nos próximos anos. (Tradução: Anna Raquel Machado (PUC SP) Maria de Lourdes M. Matencio (PUC Minas)
SUMÁRIO
Introdução
Capítulo 1 – A PROBLEMÁTICA DO AGIR NA FILOSOFIA E NAS CIÊNCIAS HUMANAS
As teorias filosóficas
As teorias econômicas e sociológicas
As teorias psicológicas
Capítulo – 2 A LINGUAGEM COMO AGIR E A ANÁLISE DOS DISCURSOS
A linguagem como agir
Os fundamentos da análise dos discursos
Métodos e modelos de Análise do Discurso
Nossa abordagem das condições de produção e da estrutura dos textos/discursos
Capítulo 3 – O TRABALHO COMO AGIR E A FORMAÇÃO PELA ANÁLISE DO TRABALHO
Agir, trabalho e análise do trabalho
Linguagem e trabalho
O agir formativo e a formação por meio da análise do agir
Capítulo 4 – O QUADRO DO INTERACIONISMO SOCIODISCURSIVO (ISD)
A base filosófica
O programa de trabalho do ISD
Formulações da problemática do agir
Capítulo 5 – APRESENTAÇÃO DA PESQUISA
Organização da pesquisa
Questões de pesquisa e métodos de análise
Perspectivas
Capítulo 6 – O AGIR EM SITUAÇÃO DE TRABALHO E SUA INTERPRETAÇÃO
As gravações do trabalho realizado
Os documentos do entorno-precedente
As entrevistas com os trabalhadores
Elementos de síntese e de prospectiva
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS