COMPRE AQUI
Ao colocarmos em reflexão práticas na linguagem dentro do espaço escolar, abordamos a língua a partir do campo de conhecimento da Análise de Discurso. Isso significa considerar a língua em seu funcionamento no meio das práticas sociais. Nesse sentido, o ensino da língua portuguesa se constitui como uma dessas práticas, de modo que a concepção de língua não se restringe ao ensino de português, mas remete ao funcionamento da linguagem em um sentido mais amplo.
Dessa perspectiva, a questão da metodologia deixa de ter um caráter de fundamento central na prática do ensino, sendo considerada como um dos elementos que fazem parte da relação do sujeito (professor e aluno) com a língua. Por isso, esse livro tem como eixo central trabalhar a relação entre o sujeito e a linguagem, levando a uma compreensão discursiva da língua não reduzida a um instrumento de comunicação, desfazendo alguns dos imaginários que sustentam a demanda pelo sentido único e verdadeiro (correto) e que, conseqüentemente, sustentam a evidência de que, dominado o código, todos têm condições inequívocas de ler corretamente. Dentro desse imaginário, a leitura, a atribuição de sentidos, é marcada constantemente por uma dupla angústia: a de alcançar o sentido verdadeiro daquilo que está lá (no texto, na imagem, no som, no gesto etc.) e a de fazer com que o outro também alcance esse mesmo sentido/interpretação.
O esforço do conjunto dos textos aqui reunidos é o de mostrar, por diferentes ancoragens analíticas, que a língua não é transparente e que a ambigüidade é produtiva nos processos de significação. No presente livro, o processo de leitura é colocado como um objeto de análise que deve ser observado por todas as áreas disciplinares. Desse modo, interessa abordar, em um texto, não o que se diz, mas como se diz o que se diz, passando assim da ênfase nos conteúdos dos textos para o lugar de leitura do aluno e do professor.
Trabalhamos, sobretudo, com os sentidos produzidos a partir do lugar de atuação do professor, procurando dar visibilidade a processos de significação que constituem historicamente esse lugar e que reaparecem no cotidiano da sala de aula. Isso significa descentralizar a discussão já tradicional do “lugar do aluno” para abrir espaços de elaboração sobre o lugar do professor: suas preocupações, dúvidas, questionamentos, as condições de trabalho e seus anseios, no que isso toca em seu trabalho com a língua.
APRESENTAÇÃO: A linguagem em seu funcionamento discursivo na escola, este livro reúne artigos que tomam a sala de aula como um espaço de movimento dos sentidos. Isso significa falar do caráter fluido da linguagem, da possibilidade de deslocamento que as diferentes formas significantes trazem. E significa também falar da escola nas reconfigurações de suas práticas.
Escolhemos falar da leitura enfocando o trabalho simbólico que a constitui, e a apresentamos em diferentes propostas. Percursos vários que mobilizam a relação do sujeito com a linguagem em condições de produção bastante diversas.
Encontramos a leitura considerada diante de estatísticas publicadas em jornais; trabalhada na divertida proposta de uma investigação policial com base na estória Chapeuzinho Vermelho; remetida a um quadrinho da irreverente personagem Mafalda; discutida em relatos de alunos e professores; vivenciada na interessante montagem de ikebanas; analisada em uma cena do marcante filme 2001, Uma Odisseia no Espaço; focada em versões do relato histórico do viajante alemão Hans Staden.
O trabalho simbólico da leitura demanda uma interpretação ante interpretações possíveis. Na tensão entre a unidade imaginária de uma interpretação e a polissemia constitutiva que permite outras leituras, temos uma discussão muito sedutora. Os limites que o texto impõe em sua materialidade e a dispersão que redesenha esses limites no processo da leitura se apresentam como um contraponto instigante.
Levamos a sério o fato de que somos sujeitos de linguagem, e que, portanto, nunca estamos fora do simbólico. Levamos às consequências o fato de que nossa relação com o mundo, com as pessoas, com a sociedade se dá como práticas na linguagem. Por isso, entendemos a leitura como uma prática cotidiana, o que permite seu redimensionamento na sala de aula. O próprio espaço físico da sala de aula pode ser imaginariamente movido, e isso acontece nas práticas propostas neste livro. As diferentes materialidades que compõem os diversos trajetos de leitura aqui apresentados ampliam o jogo significante. O verbal e o visual se unem neste livro em processos de textualização que ressaltam a conjunção fundamental entre a materialidade significante e a história, nas muitas determinações que tornam possível o dizer na escola. Compreender essas determinações e trabalhá-las como condições para a produção da interpretação, buscando deslocamentos possíveis, faz parte do trabalho discursivo da leitura. Deixamos o nosso convite para a leitura deste livro e nossa vontade de que as práticas aqui discutidas possam ajudar a fazer história(s) na sala de aula.
TEXTOS QUE COMPÕEM A OBRA E SEUS AUTORES:
APRESENTAÇÃO
LÍNGUA E LINGUAGEM EM MOVIMENTO NA SALA DE AULA
Cássia Cristina Furlan
Cristiane Maria Megid
NAS TEIAS DA LEITURA
Simone T. Hashiguti
OUTROS SENTIDOS PARA OS GALHOS SECOS
Marisa Ganança Teixeira da Silva
O DESAFIO PARA O PROFESSOR A EXEMPLO DO FILME 2001 UMA ODISSEIA NO ESPAÇO
Carmen Zink Bolognini
UMA HISTÓRIA DE LEITURA DO BRASIL
Carolina Padilha Fedatto
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
OS AUTORES
Carmen Zink Bolognini – professora doutora DLA/IEL/Unicamp.
Carolina Fedatto – doutoranda em Linguística/Unicamp
Cássia Cristina Furlan – doutoranda em Linguística Aplicada/Unicamp.
Claudia Castellanos Pfeiffer – pesquisadora (Labeurb) e professora doutora DL/IEL/Unicamp.
Cristiane Megid – doutoranda em Linguística Aplicada/Unicamp.
Marisa Ganança – doutora em Linguística/Unicamp
Simone Hashiguti – professora doutora na Universidade Federal de Uberlândia.
Suzy Lagazzi – professora doutora DL/IEL/Unicamp.