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Este livro fala de uma história que ainda não acabou, como a própria história dos homens, que não tem fim. A partir do trabalho com setenta e cinco crianças que não-aprendem-na-escola, reconstrói-se a história das formas de vigiar e castigar estas crianças ao longo dos dois últimos séculos, traçando-se paralelos com a evolução das anatomias políticas do poder de punir do sistema judiciário. De confinadas a controladas a céu aberto, continuam sendo institucionalizadas: tornadas incapazes de aprender, incorporam o fracasso e uma doença que não existe mas lhes foi imputada.
Analisa-se o papel que as instituições sociais e a ciência - a medicina, especificamente o método clínico, a psicologia, com a psicologia diferencial e a psicometria, e a educação - vêm desempenhando, ao longo desta história, legitimando concepções de homem e de mundo que constroem instrumentos que, como autos de acusação, condenam as crianças que só não-aprendem-na-escola a serem controladas por uma instituição invisível, sem paredes, virtual, introjetada em suas mentes.
Talvez esta história possa apresentar uma real mudança em seu curso a partir de uma ruptura epistemológica, que seja capaz de construir outros paradigmas para a ciência.
Este trabalho pretende, ao apontar a necessidade e possibilidades de se enxergar a criança como ela realmente é, sem transformá-la em caso, escapando das amarras que o olhar clínico nos impõe, integrar-se ao esforço coletivo, criando as condições necessárias para que essa ruptura possa acontecer.
Sobre a autora:
Maria Aparecida Affonso Moysés é médica, formada pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, onde fez sua especialização em Pediatria. Iniciou sua vida acadêmica dedicando-se ao estudo da criança em idade escolar; ainda na USP, fez seu Doutorado em Pediatria, aprofundando-se na pesquisa sobre os caminhos da medicalização do processo ensino-aprendizagem.
Atualmente, é Professora Livre-Docente no Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), na área de Pediatria Social.
Trabalhando com crianças que "só não aprendem-na-escola" e que por isto são rotuladas de portadoras de alguma doença, a autora vem se dedicando a puxar os fios que tramam as formas de pensar a criança, a escola, os processos de aprendizagem, em nossa sociedade. Neste livro, fruto de sua Tese de Livre-Docência, analisa os modos pelos quais estas crianças, normais até entrarem em uma escola excludente, são tornadas reféns de doenças inexistentes, de fracassos que não são seus, sendo por fim aprisionadas em instituições invisíveis.
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