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A coluna Garotas do Alceu circulou nas páginas em formato tabloide da Revista O Cruzeiro de 1938 até 1964; foram editadas semanalmente por ininterruptos 27 anos no mesmo magazine. As bonecas de olhos expressivos e delineados contavam sobre a vida cotidiana daquele Rio de Janeiro dos meados de século XX. Os textos eram vinculados aos desenhos de Alceu Penna, textos estes assinados por diferentes escritores ao longo dos anos de edição. De olhos abertos, ou como escreveu Warburg, segundo sua realidade corpórea eram pin-ups. Marca da imprensa daquele século XX. Eram Garotas de seu tempo. Divertidas, ligeiras, atrapalhadas e maliciosas. Disseminavam aqueles novos hábitos “modernos”, frequentavam novos locais de sociabilidade urbana, difundiam tendências de moda, ensaiavam uma nova postura de gênero. Estavam imersas naquela sociedade seduzida pelo cinema e por suas estrelas, faziam parte daquele emergir da juventude no século XX. As sedutoras Garotas tinham um caráter erótico quase doce, quase ingênuo. Eram lindas bonecas de papel, lindas bonecas de papel imprensa. Elas eram tudo isso. Jamais tentaria negar o inegável.
De olhos fechados e segundo sua verdadeira essência... A resposta de Aby Warburg ainda cabe na pergunta. Um século depois de ter sido formulada e respondida, ela parece encaixar nesse desencaixe de imagens. As Garotas do Alceu também são um destes espíritos elementares, são deusas pagãs no exílio. Tal como a ninfa de Domenico Ghirlandaio, as Garotas do Alceu parecem saltar daquelas páginas, ou melhor, aquelas duas páginas parecem saltar da revista. Aquelas páginas, aquelas imagens de jovens mulheres tinham um movimento próprio. Estavam numa espécie de compasso descompassado naquele periódico. Elas não pertenciam a ele, pelo menos não exclusivamente. Elas tinham vida própria. Convenceram muitos homens e muitas mulheres disso. Eu mesma já escutei muitas mulheres, hoje jovens e encantadoras senhoras, falarem que elas eram uma Garota do Alceu. Aquelas bonecas não estavam presas àquele papel imprensa. Ali, elas se reproduziram por contato. Era preciso mais do que dois grampos de papel prendendo-as naquela revista, estes dois grampos não as impediam de nos saltar aos olhos. Elas tinham movimento, cores, traços, arranjos. Uma personalidade e uma ousadia que se tornaram visíveis naqueles traços. Elas eram ninfas... Eram belas e sedutoras ninfas. Eram memória, desejo e tempos.
Sobre a autora
Daniela Queiróz Campos é Professora de História da Arte da Universidade Federal de Santa Catarina. Pós-doutora pela École des Hautes Études en Sciences Sociales (2017) de Paris sob a supervisão do Professor Georges Didi-Huberman, com bolsa concedida CNPq. Doutora em História pela Universidade Federal de Santa Catarina (2014), tendo realizado estágio doutoral sanduíche na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris. Mestre em História pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (2010). Graduada em História pela Universidade do Estado de Santa Catarina (2007). Tem experiência na área de História da arte, em especial sobre as perspectivas de Aby Warburg e Georges Didi-Huberman.