No que diz respeito à tradução e à minha presunção de que “Lavoura Arcaica” dialogaria com a Filosofia, traduzindo, em formato literário, algo próprio às reflexões filosóficas, lembro que se trata de gêneros distintos do discurso e da escrita, em particular, já que o que diferencia, fundamentalmente, o texto filosófico do texto literário (mesmo no momento contemporâneo, de maior hibridização entre textos e gêneros) é sua forma de dizer, sua configuração rítmica e léxico-sintática, e não propriamente aquilo de que se fala, ou seja, o conteúdo presumido em cada caso, muito embora seja de se considerar polêmica qualquer separação entre forma e sentido. Pretendo, ao fim e ao cabo, contribuir para a ampliação do escopo dos Estudos de Tradução, com ênfase para a Tradução Literária, porém levando em conta a fertilidade que aparenta ter a epistemologia de caráter comparativo e teórico-prático – como a que exploro e proponho aqui – para os estudos da tradução intergenérica. Será bem-vinda, de resto, a receptividade que acaso houver da possibilidade de o campo de Estudos de Tradução vir a dialogar e contribuir com a Filosofia.
Sobre a autora
Maria Sílvia Cintra Martins é escritora, tradutora e professora sênior do Departamento de Letras da Universidade Federal de São Carlos. Atua nos programas de pós-graduação PPGL/ UFSCar e LETRA/USP. É pesquisadora PQ 2 e líder do Grupo de Pesquisa LEETRA (CNPq). Tem vários livros publicados pela Mercado de Letras: “Oralidade, escrita e papéis sociais na infância” (2008), “Letramento, interdisciplinaridade e multiculturalismo no Ensino Fundamental de nove anos” (2012), “Literatura, cultura e direitos de indígenas em época de globalização” (2014), “Saussure e o Curso de Linguística Geral” (2014) e “O Poder das Palavras” (2020). No momento, dedica-se à tradução para o português da obra “Langage, histoire, une même théorie”, do linguista, poeta e tradutor francês Henri Meschonnic.
|