Como não embalar nossos filhos?
Tirar dos pais o desejo de embalar seus filhos – metafórica ou literalmente –, o direito de chorar suas mortes e o de enterrá-los foi uma das muitas perversidades cometidas pela ditadura empresarial-militar brasileira nos anos 60 e 70 do século XX. Aquele período sombrio deixou marcas inescapáveis na história recente do Brasil, hoje na ordem do dia. São 243 os comunistas desaparecidos e mortos reconhecidos pela Comissão Nacional da Verdade em dezembro de 2014. O texto, do qual derivou a Exposição ... só queria embalar meu filho..., rememora o sequestro e o assassinato de militantes, na maioria jovens, muitos dos quais jamais encontrados, cujo pecado capital foi o de lutar por um mundo de iguais e entregar suas vidas à defesa dos subalternos.
Sensíveis às lutas em favor de uma sociedade justa, ou delas participantes, eivados de profundo compromisso político com a libertação do ser humano, nos reunimos, 89 mulheres e 6 homens de nove estados do país, a pedido de Rita Isabel Vaz para que os lembrássemos e os iluminássemos num velar tardio, mas não extemporâneo. Armados de linhas, panos, agulhas e criação, sobre aquelas vidas bordamos nosso protesto e nos recusamos, junto com Rita, a esquecer uma ação política tão importante quanto dolorida em nossa história. Somamos nossa maestria com pontos e laçadas ao empenho de Rita que, por meio da arte, alertará a todos quantos virem sua Exposição: não nos percamos no irracionalismo vigente, não abandonemos nossa alegria, não nos esqueçamos de lutar, não deixemos de cantar – como naquele tempo – “Caminhando e cantando e seguindo a canção, aprendendo e ensinando uma velha lição”. [Olinda Evangelista]
Sobre a autora
Rita Isabel Vaz é graduada em Psicologia pela Universidade Federal do Paraná, Especialista em Educação pela Universidade Federal do Paraná. Graduada em Superior em Escultura, pela Universidade Estadual do Paraná, Campus I, Escola de Música e Belas Artes do Paraná.